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125 Anos do Jornal O Riomaiorense . Sessão Comemorativa (12)

                                                    

 

 

                                     

 

 

CARLOS MANUEL COSTA

 

Senhoras e senhores, boa tarde.

 

Na pessoa do Dr. António Moreira, que na ausência do arquitecto Nuno Rocha em Macau preside a este acto comemorativo dos 125 anos da criação do jornal O Riomaiorense, saúdo e parabenizo todos os associados da EICEL 1920 – Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, actual editora daquele título de imprensa que nestes tempos modernos se exprime apenas em site.

 

Pediu-me Nuno Rocha que falasse hoje, aqui, da importância da imprensa regional e do que foram as cerca de três décadas do semanário Região de Rio Maior, publicado pela primeira vez em 5 de Outubro de 1988 e extinto ao n.o 1525 em 29 de Dezembro de 2017.

 

Não será longa a exposição.

 

No que respeita ao jornal Região de Rio Maior tudo começou em João Pereira Lopes, falecido a 4 de Janeiro de 1988. Criou vários títulos de imprensa regional – creio que um deles ainda subsiste numa cidade do litoral – e em Rio Maior tinha O Zé, de distribuição nacional, criado numa época de acentuada confrontação ideológica, pelo que era nesse contexto de incerteza que se ponderava para que solução penderia Portugal, que se inseria esse semanário.

 

O Zé continha apenas uma página, por vezes apenas uma coluna nessa página, cheia de breves sobre assuntos locais, fazendo lembrar os atuais posts em facebook mas mais bem escritos e assertivos do que em geral se vai vendo hoje nas chamadas redes sociais.

 

Foi também ele que criou a primeira estação de radiodifusão em Rio Maior: a Rádio Maior, em 5 de Outubro de 1985.

 

Meses antes de falecer, criou a Fundação Lopes e foi na vigência desta instituição, entretanto extinta, que se gerou o jornal Região de Rio Maior.

 

João Pereira Lopes era um homem da direita democrática e o simples facto de pensar pela sua própria cabeça valeu-lhe ser preso pela PIDE.

 

Apesar do seu notável contributo para a imprensa regional e a comunicação social regional em geral, João Pereira Lopes nem sequer tem o nome numa ruela. É pena!

 

Mas a verdade é que também ninguém quer saber do Cavaleiro Negro de Azambujeira, herói na batalha do Salado, nem de Ferreira do Ribatejo que chegou a ser sede daquilo que pelos anos 1200 equivaleria ao que é hoje um concelho e a ter dois mosteiros, uma terra que está aí e se chama... Ribeira de São João. Desta quis saber Jorge Silva e sobre o Cavaleiro Negro investigou António Montez. Está tudo publicado nas páginas do Região de Rio Maior.

 

Estes são pequenos exemplos do que a imprensa regional pode fazer pelas terras que tecem Portugal. Mas pode fazer – e faz mais.

Pode ajudar um eleito a argumentar com um Primeiro-ministro e convencê-lo que a obra tal é necessária, pondo-lhe à frente dos olhos o que os jornalistas escrevem e documentam, os opinion makers locais argumentam e a opinião pública local entende. O que é lamentável é que perante evidências se desperdice essa “força” e não se vá à procura de mais-valias para a terra.

 

O que é válido para a relação com o Poder Central também o é a nível dos demais patamares da administração.

 

Ao longo dos seus quase 30 anos de publicação ininterrupta, o jornal Região de Rio Maior contribuiu para a resolução de muitos problemas que podendo parecer menores, são como os mosquitos, picam as pessoas, incomodam-nas, fazem-lhes mal. Para a resolução de quantos problemas desse tipo terá contribuído o saudoso Feliciano Júnior, na simplicidade do seu Bilhete Postal?

 

Vem a propósito recordar um minúsculo apelo que uma vez João Aurélio fez no jornal e que era mais ou menos assim: “O senhor presidente fez todas as grandes obras que eram necessárias a Rio Maior e estamos-lhe gratos por isso mas por favor, agora mande tapar os buracos que há nas ruas, à porta das nossas casas.”

 

O Região de Rio Maior abraçou causas (as piscinas municipais; a aposta no Desporto como opção de desenvolvimento do concelho; o aeroporto na Ota, de cuja construção a região viria a ser esbulhada pelo Governo da época, num mês, após anos e anos de garantias de que seria ali, com as consequências que ainda hoje estão à vista e são sentidas na nossa economia e perda de atractividade; a A15; a localização em Rio Maior da Escola Superior de Desporto e mais tarde a exigência da construção das suas instalações próprias, como mais recentemente a exigência da construção, tal como está no projecto e a Assembleia da República deliberou em 2017 que o Governo deve fazer, da respectiva Residência de Estudantes, etc.).

 

O jornal Região de Rio Maior foi publicado pela primeira vez em 5 de Outubro de 1988. Mas nasceu umas semanas antes, numa noite de quinta-feira se a memória não me atraiçoa.

 

Nessa noite, às 20 horas, três homens encontraram-se na Redacção da antiga Rádio Maior, na sede da Fundação Lopes, num edifício que já não existe, cuja localização faz hoje parte daquele enorme espaço, emprestado, de estacionamento, esburacado – um lamaçal de inverno e uma fonte de poeira no verão –, paralelo à Rua do Loureiro.

 

Esses homens eram Marcolino Nobre, que era um dos administradores da Fundação Lopes, Carlos Manuel, jornalista e Paulo Aguiar, publicitário. Entre nós se discutiu a ideia que Marcolino Nobre trazia de se criar um jornal que desse visibilidade a Rio Maior e o seu concelho. Que tipo de jornal seria? Que viabilidade teria? Por volta das 23 horas estavam gizadas as linhas mestras para o projecto.

 

O projecto viria a ser apresentado mais tarde, numa reunião realizada no mesmo edifício, para a qual foram convidados várias entidades locais e outros notáveis riomaiorenses.

 

Iniciada a publicação, chegavam ecos da Praça da República onde se apostava que o jornal não durava mais do que duas ou três semanas, que estava por dias... Talvez aguentasse dois ou três meses...

 

Aguentou 29 anos, 2 meses e 26 dias. Chegou a ter 5 trabalhadores efetivos, dos quais 3 jornalistas e 2 administrativos. Em Rio Maior, o Região de Rio Maior foi o jornal que se publicou durante mais tempo sem interrupções.

(Continua na página seguinte)

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Carlos Manuel Costa. Director do jornal Região de Rio Maior e antigo proprietário do jornal O Riomaiorense © Fotografia gentilmente cedida pelo jornal Região de Rio Maior.

"Ao longo dos seus quase trinta anos de publicação ininterrupta, o jornal Região de Rio Maior contribuiu para a resolução de muitos problemas que podendo parecer menores, são como os mosquitos, picam as pessoas, incomodam-nas, fazem-lhes mal."

 

"Iniciada a publicação, chegavam ecos da Praça da República onde se apostava que o jornal não durava mais do que duas ou três semanas, que estava por dias... Talvez aguentasse dois ou três meses..."

 

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