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[Arquivo do Riomaiorense) A Rua Direita em 1900 (2)

 

 

Mas voltemos, outra vez, ao princípio da “sua” Rua Direita, cujo primeiro estabelecimento, desse lado, é o já referido, pertencente a Rafael José da Costa.

 

A seguir encontrei a loja de loiças de barro pertencente a Maria Henriqueta e uma mercearia de que é proprietário Joaquim António Correia.

 

No prédio seguinte existe uma bonita porta em estilo manuelino, a qual dá entrada para o cartório do escrivão-tabelião Sr. Frederico António Mateus Serrano, pessoa aqui muito considerada.

 

Há depois uma travessa muito estreita e comprida, que liga a Rua Direita a umas azinhagas a que dão o nome de Sualdeia, situando-se a seguir um edifício onde está a estação do correio que, segundo me informaram, está, segundo as conveniências do chefe, o Sr. Carreira, que também é o proprietário do prédio, umas vezes no rés-do-chão e outras no primeiro andar.

 

Agora a estação está no rés-do-chão...

 

Entrei depois no principal centro de conversa da terra, onde se juntam todas as pessoas importantes a cavaquear: a Farmácia Barbosa.

 

Há, a seguir, um estabelecimento misto, propriedade de Gerardo Pereira da Maia, bastante afreguesado, segundo me disse o empregado, Joaquim Couveiro, das Boiças.

 

Só bastante mais abaixo encontrei outro estabelecimento que pertenceu até há pouco a Joaquim Henriques de Carvalho, que o trespassou à firma Correia, Vassalo & Almeida.

 

Depois da rua que dá acesso à “Fonte Velha”, muito concorrida apesar de ser de mergulho, logo à esquina, existe a Farmácia do Sr. Francisco Maria de Oliveira, que tem como empregado um irmão chamado Emídio José de Oliveira, poeta nas horas vagas.

Nesta farmácia encontrei, entretidos numa renhida jogatana, os Srs. António Almeida, Filipe Vassalo, António Joaquim Alves, António Feliciano, e um funcionário público a que chamavam o Costa Apita.

 

O Sr. António Feliciano estava acompanhado por um garoto seu filho, também chamado António Feliciano, e afirmou-me, com certa graça, que esperava ter também um neto chamado António Feliciano.

 

Segundo apurei todos são seus conhecidos e seus amigos.

 

E só encontrei mais o estabelecimento de ferragens, mercearias e solas do Sr. Filipe Vassalo e, lá mais adiante, uma oficina de carpinteiro pertencente a João Henriques de Almeida.

 

Verifiquei, nesta rua, que é realmente a mais importante, duas circunstâncias bastante curiosas: não existe nenhuma montra e os estabelecimentos, que abrem muito cedo e fecham muito tarde, funcionam todos os dias, o que também acontece nos raros que existem em outras ruas.

 

Alguns estabelecimentos fecham, de longe em longe, aos domingos, na parte da tarde, regalia muito apreciada tanto por empregados como por patrões.

 

E como esta já vai longa, aqui termino, enviando-lhe um saudoso abraço.

 

Rio Maior, 20 de Fevereiro de 1900.

(Assinatura ilegível).

O edifício de António Carreira de Almeida onde em 1900 funcionava a estação do Correio. © Nuno Rocha, 2007. Arquivo do jornal O Riomaiorense.

Figura 3 - O edifício de António Carreira de Almeida onde em 1900 funcionava a estação do Correio. © Nuno Rocha, 2007. Arquivo do jornal O Riomaiorense.

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