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António Custódio dos Santos (1885-1972) (1)

 

 

                                        Por Nuno Alexandre Dias Rocha

                                                Presidente da Direcção da EICEL1920

 

 

 

 

António Custódio dos Santos nasceu às 2h00 do dia 3 de Fevereiro de 1885 no lugar de Vale da Cela, freguesia de Alfeizerão, concelho de Alcobaça, filho de Custódio dos Santos, marítimo de profissão, e Maria da Piedade Marques (1). Foi baptizado na Igreja Paroquial de S. João Baptista de Alfeizerão, pelo prior António Henriques Secco, tendo por padrinhos António Tempero, jornaleiro de profissão, de Vale da Cela, e Maria Gertrudes Júnior, de Alfeizerão (2).

  

Oriundo de uma família de escassos recursos económicos, iniciou actividade profissional aos onze anos de idade, como marçano num estabelecimento comercial localizado na vila de Alcobaça, na praça fronteira ao Mosteiro de Santa Maria. Durante a adolescência fixou residência em Rio Maior, enquanto empregado do estabelecimento comercial de Francisco Henriques de Carvalho, na Rua Direita, actual Rua Serpa Pinto. Funcionário honesto e competente, estabeleceu, em 1904, sociedade com o seu patrão, assumindo o cargo de sócio gerente do estabelecimento onde trabalhava, e cuja firma passa a ter a designação: Francisco Henriques de Carvalho & Santos (3).

 

Com uma situação profissional em franca prosperidade, casou a 6 de Julho de 1907 com Fausta Ramos de Sequeira na igreja de Nossa Senhora da Conceição, de Rio Maior, tendo como testemunhas Ayres Augusto Mesquita de Sá e Laura Robert Barreira, representada por Bibiana Braga, em cerimónia oficiada pelo pároco Manoel Vieira (4). Desta união nascem três filhas: Aurora da Liberdade Sequeira Santos (n. 16 de Maio de 1910), Lavínia Sequeira Santos (n. 6 de Outubro de 1911) e Maria Madalena Sequeira Santos  (n. 13 de Outubro de 1920).

 

Estabelece nestes anos residência na Casa Regallo, localizada na Praça do Comércio no. 1-2 e Rua Serpa Pinto nos. 64 a 70, antigo edifício propriedade de Francisco Inácio Regallo, no qual abre ao público a Loja do Povo, sob o lema publicitário: "Ganhar pouco para vender muito" (figura 2).

1. A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA E O SONHO POSITIVISTA DO PROGRESSO EM RIO MAIOR

 

António Custódio dos Santos, consciente das profundas desigualdades sociais do Portugal de finais do século XIX e início do século XX, envolve-se na causa da República, da qual será um dos principais protagonistas no concelho de Rio Maior, estabelecendo contactos com algumas das figuras cimeiras da futura República Portuguesa.

Em 1904, durante a presença de Manuel de Arriaga em Rio Maior, por três dias,  exercendo a sua profissão de advogado em caso julgado no tribunal da comarca local, Custódio dos Santos e um grupo de republicanos riomaiorenses visitam o ilustre correligionário (5), iniciando então correspondência com o futuro Presidente da República Portuguesa (6).

As primeiras referências à intenção de organizar em Rio Maior um núcleo do Partido Republicano surgem em 1905, em breve notícia publicada por Manoel José Ferreira no jornal Civilização Popular, dando conta de que “em poucas semanas” estaria organizado na vila um “Centro Progressista” (7). Decorreriam, no entanto, ainda três anos até à sua efectiva abertura.

O Partido Republicano tinha como principal representante no concelho António Gomes de Sousa Varela (1863-1945), residente na vila da Marmeleira, velho combatente pela República, envolvido na tentativa revolucionária de 31 de Janeiro de 1891, e vereador da Câmara Municipal de Rio Maior. Personalidade cuja estatura cívica e moral será sempre uma referência para António Custódio dos Santos.

 

Na primeira década do século XX, Custódio dos Santos afirma-se como uma das vozes mais respeitadas entre os republicanos locais. Orador exímio, alia ao discurso inflamado uma pena ágil, tornando-se porta-voz do ideal da República.

 

A partir de Junho de 1908, destaca-se como o principal comentador da política concelhia, enquanto correspondente de Rio Maior do jornal republicano O Debate, de Santarém (8). Em textos marcados pela frontalidade das opiniões e por uma fina ironia ataca de forma impiedosa o que entende ser a política decadente de uma monarquia moribunda, escrutinando e verberando os actos dos seus representantes.

 

O primeiro alvo de Custódio dos Santos é Joaquim da Silva Pereira, Administrador do Concelho, médico municipal e subdelegado de saúde, nomeado durante o Governo do Almirante Francisco Ferreira do Amaral, conhecido como o “Governo da Acalmação”, após o regicídio e a demissão de João Franco.

É motivo de crítica veemente a acumulação de cargos e dos respectivos vencimentos pelo Administrador do Concelho e o incumprimento, por este, de uma promessa feita no acto de tomada de posse, de “que o seu vencimento de administrador seria aplicado a melhoramentos locais” (9).

O ano de 1908 é de caos político em Rio Maior. Sobre Joaquim da Silva Pereira concentram-se as animosidades de diferentes facções políticas locais. As tensões existentes levam o administrador a requerer ao Governo Civil de Santarém o envio de uma força militar de caçadores 6, comandada por um alferes, para manutenção da ordem pública.

 

A presença prolongada da força militar, que se mantém estacionada na vila durante meses, o alegado abuso de autoridade pelo administrador em interrogatórios a cidadãos e a alegada cobertura dada a agressões praticadas pelo Regedor da Freguesia, geram um clima de contestação na vila (10).

(continua na página seguinte)

Figura 1 - António Custódio dos Santos, fotografia datada de 1907. © Colecção Tereza Santos do Carmo, Arquivo EICEL1920.

Figura 2 - Antiga Loja do Povo, na Praça do Comércio, cerca de 1910. Demolida pela Câmara Municipal de Rio Maior © Arquivo Região de Rio Maior.

(1)

Registo Paroquial, Concelho de Alcobaça, Freguesia de Alfeizerão. Ano de 1885, folha 58 verso. Arquivo Distrital de Leiria, Cota: IV-24-B-40.

(2)

Idem, ibidem.

(3)

“Nova firma comercial”. In Civilização Popular n.º 468. Rio Maior, 4 de Outubro de 1904.

(4)

Cópia de certidão de casamento de António Custódio dos Santos e Fausta Ramos de Sequeira, lavrada pelo pároco António Pereira Quartilho, a 14 de Janeiro de 1932. Colecção António Sérgio Santos do Carmo.

(5)

SANTOS, A. C. – “Dr. Manuel D’Arriaga”. In O Riomaiorense (2ª série) n.º 255. Rio Maior, 10 de Março de 1917.

(6)

Idem, ibidem.

(7)

“Centro Progressista”. In Civilização Popular n.º 478. Rio Maior, 29 de Janeiro de 1905.

(8)

SANTOS, A. C. - “O Debate no Distrito”. In O Debate n.º 28. Santarém, 11 de Junho de 1908, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 10 de Junho de 2011, pág.3.

(9)

SANTOS, A. C. - “O Debate no Distrito”. In O Debate n.º 32. Santarém, 9 de Julho de 1908, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 8 de Julho de 2011, pág.3.

(10)

SANTOS, A. C. - “O Debate no Distrito”. In O Debate n.º 28. Santarém, 11 de Junho de 1908, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 10 de Junho de 2011, pág.3.

SANTOS, A. C. - “O Debate no Distrito”. In O Debate n.º 31. Santarém, 2 de Julho de 1908, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 1 de Julho de 2011, pág.2.

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