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António Custódio dos Santos (1885-1972) (2)

 

 

                                      

                                            

 

 

 

 

No final do mês de Julho de 1908, Joaquim da Silva Pereira cede perante a contestação e a força militar é retirada. Sem protecção militar as autoridades políticas serão alvo de graves distúrbios no início do mês de Agosto, com o arremesso de pedras e disparo de tiros contra a residência do Administrador do Concelho (11).

  

Devido à inexistência de uma força policial na vila, parte de Santarém o comandante da polícia civil, acompanhado por uma força de dez guardas, com o objectivo de manter a ordem e investigar os acontecimentos. Da investigação realizada resultou a detenção de cinco indivíduos: António Diogo Ferreira, Manuel Pandaio, José Pandaio, Francisco Romão e Ernestino Madeira (12).

 

A gravidade dos acontecimentos teve eco nas duas Câmaras do Parlamento, entre 7 e 11 de Agosto, com o Presidente do Conselho de Ministros e o Ministro da Justiça a responderem a interpelações respectivamente do Par do Reino José de Alpoim, e do Deputado João Pinto dos Santos. O Presidente do Conselho, Ferreira do Amaral, compromete-se a empregar todos os meios ao seu dispor para que se restabeleça a ordem e se mantenha a legalidade (13).

 

Dividem-se as opiniões, considerando uns que os acontecimentos se devem à desorientação do Administrador e outros que são o resultado de actos subversivos instigados pelos opositores políticos. Faz-se constar que os detidos se preparariam para revelar a identidade dos autores morais dos distúrbios (14).

António Custódio dos Santos pronuncia-se sobre o “caso Silva Pereira” em artigo publicado no jornal O Debate, a 24 de Setembro, sob o título “Carta de Rio Maior”, que causará polémica na vila, ao atribuir o sucedido a guerras fratricidas entre elementos dos partidos Regenerador e Progressista.

 

Procurando colocar-se numa posição de equidistância em relação às forças envolvidas nos confrontos, afirma que perante o antagonismo das opiniões, só mais tarde se poderá fazer a devida justiça, quando “no lugar dos ódios, das malquerenças, dos vilipêndios, maldosamente semeados por uma grande maioria dos habitantes desta vila, simplesmente fiquem, bem nítidos e claros, os incorruptíveis factos, perante os quais nenhum historiador, por maior que seja o seu espírito de parcialidade, pode deixar de se curvar.” Nenhuma das partes está isenta de culpas, “porquanto, se de um lado existem faltas, como existem, do outro também elas não são menores nem em mais pequena quantidade” (15).

Perante a possibilidade de novos confrontos, António Custódio dos Santos deixa o aviso: “Contentem-se os respectivos partidos com o que a ambos tem acontecido, e deixem-se de mais brincadeiras com o lume que, sem quererem, os pode dum momento para o outro reduzir a completas cinzas” (16).

Os republicanos apresentam-se assim à opinião pública como alternativa ao estado de sítio da vida política local que apelidam de “bandalheira monárquica”. No número seguinte do jornal O Debate, Custódio dos Santos é ainda mais claro na definição do posicionamento político do Partido Republicano em Rio Maior: “Unamo-nos, todos, amigos! Façamos da família republicana uma única família, e a vitória será próxima, decisiva! Auxílios, só os devemos dar àqueles que sejam nossos correligionários, que trabalhem debaixo da nossa bandeira. O contrário, será enfraquecer-nos a nós próprios, e nós que somos tão fortes pela ideia que representamos, não nos devemos deixar enfraquecer. Guerra, pois, a todos, que todos são nossos inimigos!” (17)

O crescimento da actividade dos republicanos no concelho de Rio Maior terá como momento fundamental a inauguração, a 1 de Dezembro de 1908, do Centro Escolar Republicano António José d'Almeida (18) (figura 3). No mesmo dia, o Administrador do Concelho, Joaquim da Silva Pereira, apresenta o pedido de demissão das suas funções (19).

Consuma-se então uma dupla vitória para António Custódio dos Santos e para os republicanos de Rio Maior. Estava aberto o caminho para intensificar a propaganda política em plena praça pública.

(continua na página seguinte)

(11)

“Em Rio Maior”. In O Debate n.º 35. Santarém, 30 de Julho de 1908, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 22 de Julho de 2011, pág. 2.

“Distúrbios em Rio Maior”. In O Debate n.º 37. Santarém, 13 de Agosto de 1908, pág.2. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 5 de Agosto de 2011, pág.3.

(12)

Idem, ibidem.

(13)

Annaes da Câmara dos Dignos Pares do Reino, Sessão n.º 36. Lisboa, 7 de Agosto de 1908, pág. 8.

Annaes da Câmara dos Dignos Pares do Reino, Sessão n.º 39. Lisboa, 11 de Agosto de 1908, pág. 2.

 

Annaes da Câmara dos Senhores Deputados, Sessão n.º 64. Lisboa, 11 de Agosto de 1908, pág. 5.

(14)

“Distúrbios em Rio Maior”. Op. Cit.

(15)

SANTOS, A. C. - “Carta de Rio Maior”. In O Debate n.º 43. Santarém, 24 de Setembro de 1908, pág. 3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 23 de Setembro de 2011, pág.8.

(16)

Idem, ibidem.

(17)

SANTOS, A. C. - “O Debate no Distrito”. In O Debate n.º 44. Santarém, 8 de Outubro de 1908, pág. 5. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 30 de Setembro de 2011, pág.8.

(18)

“Club Republicano”. In Civilização Popular n.º 558. Rio Maior, 28 de Novembro de 1908.

“Centro Republicano”. In Civilização Popular n.º 559. Rio Maior, 24 de Dezembro de 1908.

(19)

Acta da Sessão da Câmara Municipal de Rio Maior de 7 de Janeiro de 1909. Citada por: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 8 de Julho de 2011, pág. 3.

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