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António Custódio dos Santos (1885-1972) (3)

 

 

                                      

                                            

 

 

 

 

A 8 de Abril de 1909, Custódio dos Santos regista na rúbrica “O Debate no Distrito” as deliberações tomadas em reunião da Direcção do Centro Escolar Republicano António José d’Almeida, designando o dia 20 de Maio desse ano para a realização de comícios republicanos em Rio Maior e na Marmeleira, e decidindo a realização aos domingos, nas salas do Centro, de “uma sessão solene para a leitura e respectiva crítica das Cartas Políticas de João Chagas” (20).

 

Em preparação dos comícios republicanos a realizar em Rio Maior e na Marmeleira, é publicado no Debate, de 13 de Maio, um excerto do respectivo folheto de propaganda:

  

Cidadãos! Homens de todas as cores políticas honestas e independentes:

A plêiade brilhantíssima que, no próximo dia 20 de Maio, vem honrar Rio Maior e a Marmeleira, com o calor fascinante e atraente da sua voz dominadora, está perfeitamente em contraste com os envelhecidos vultos dessa monarquia carunchosa e caduca, que, a passos trémulos mas verdadeiramente agigantados, nos pretende arrastar para o abismo! Mostrai todos vós, que tendes brio e sois patriotas; que sabeis condenar o vício e premiar a virtude, e correi pressurosos, a ouvir os oradores. Se a sua doutrina vos não agradar, exprobrai-a franca e publicamente.

 

Mas se ela, como não pode deixar de suceder, penetrar nos vossos corações, revolver as vossas íntimas vontades, e se apoderar das vossas consciências, não hesiteis, e dai à causa democrática, à Causa do Povo e do País, a vossa leal adesão! Não olheis a penachos. No partido republicano, além de não haver penachos, o que mais vale é o que mais trabalha. A igualdade é a nossa mais encantadora divisa” (21).

 

Realizado no dia 20 de Maio de 1909, como anunciado, o Comício Republicano de Rio Maior "trouxe à vila grande concorrência de pessoas de todo o concelho” (22), segundo relata Manoel José Ferreira no jornal Civilização Popular. António Custódio dos Santos, então Secretário da Direcção do Centro Escolar Republicano António José d’Almeida, faz o discurso de apresentação dos oradores: Dr. Bernardino Machado, Dr. António José de Almeida, Dr. José Montez e o jornalista de “O Mundo”, Augusto Vieira (23).

O prestígio social de Custódio dos Santos na vila de Rio Maior será posteriormente reconhecido com a eleição para Presidente do Conselho Fiscal da mais selecta associação local: a Assembleia Riomaiorense, em Julho de 1909 (24). Apenas um ano passado, em Julho de 1910, será eleito Presidente da Direcção daquela colectividade (25). Neste mês de Julho discursa, com Eugénio Casimiro e João Ferreira da Maia, na presença de António Gomes de Sousa Varela, “sobre os crimes da monarquia”, em conferência de propaganda republicana no lugar de Boiças, freguesia e concelho de Rio Maior, perante uma assistência de “mais de quatrocentas pessoas” (26).

 

Aproximava-se a data ansiada pelos republicanos riomaiorenses. A 5 de Outubro de 1910 dá-se a Proclamação da República. Segundo o jornal Civilização Popular, ao tomarem conhecimento da notícia, os membros do Centro Escolar Republicano reúnem e dirigem-se para o edifício dos Paços do Concelho (figura 4) onde são cordialmente recebidos pelo Administrador do Concelho, que confia a sua autoridade em António Gomes de Sousa Varela.

António Custódio dos Santos, com 25 anos de idade, é eleito Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, a 6 de Outubro, substituindo o presidente monárquico Rafael José da Costa. A restante vereação é composta por João Ferreira da Maia, vice-presidente, Eugénio Casimiro, Joaquim Ferreira Goucha e Artur Maltez, vereadores (figura 5) (27). Exercerá estas funções em três mandatos até Janeiro de 1912.

Começavam então as primeiras divisões entre os Republicanos.

A 24 de Fevereiro de 1912 dá-se a primeira secessão do Partido Republicano Português, com a criação do Partido Republicano Evolucionista por António José de Almeida, que se posiciona no espectro político nacional como um partido de centro-direita em firme oposição ao Partido Democrático de Afonso Costa.

 

O Centro Escolar Republicano Dr. António José d’Almeida adere ao novo partido fundado pelo seu patrono (28). António Custódio, embora crítico da divisão entre republicanos, opta por apoiar o grande tribuno, com o qual partilha convicções políticas e um acendrado patriotismo. Assumirá posteriormente um lugar de relevo entre os Evolucionistas de Rio Maior ao ser eleito Presidente da Assembleia-geral do Centro Escolar Republicano (29).

Neste período, António Custódio ressurge no centro da actividade política local, enquanto um dos fundadores do semanário republicano O Riomaiorense, a 4 de Abril de 1912, no qual será o principal comentador da política local e nacional.

(continua na próxima página)

Figura 3 - Edifício onde funcionou o Centro Escolar Republicano António José d'Almeida, na Travessa António José de Almeida. Demolido pela Câmara Municipal de Rio Maior. Reprodução de DUARTE, Fernando, 1979.

(20)

SANTOS, A. C. - “O Debate no Distrito”. In O Debate n.º 70. Santarém, 8 de Abril de 1909, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior nº1174. Rio Maior, 8 de Abril de 2011.

(21)

SANTOS, A. C. - “O Debate no Distrito”. In O Debate n.º 75. Santarém, 13 de Maio de 1909, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior nº1179. Rio Maior, 13 de Maio de 2011, pág.3.

(22)

“Partido Republicano”. In Civilização Popular n.º 565. Rio Maior, 22 de Maio de 1909.

(23)

“Os comícios de Lisboa, Rio Maior e Marmeleira”. In O Debate n.º 77. Santarém, 27 de Maio de 1909, pág.3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior. Rio Maior, 20 de Maio de 2011, pág.4.

(24)

“Assembleia Riomaiorense”. In Civilização Popular n.º 568, de 27 de Agosto de 1909.

(25)

“Assembleia Riomaiorense”. In Civilização Popular n.º 588, de 3 de Agosto de 1910.

(26)

SANTOS, A. C. - “Carta de Rio Maior”. In O Debate n.º 137. Santarém, 21 de Julho de 1910, pág. 3. Reproduzido em: ALMEIDA, Maria Alzira – “Rio Maior na imprensa de inícios do Século XX”. In Região de Rio Maior nº1184. Rio Maior, 17 de Junho de 2011, pág.6.

(27)

“Noticiário”. In Civilização Popular n.º 591, de 21 de Outubro de 1910.

(28)

“Centro Escolar Republicano”. In O Riomaiorense (2ª série) n.º 1, de 4 de Abril de 1912.

(29)

“Centro Escolar Republicano Dr. António José d’Almeida”. In O Riomaiorense (2ª série) n.º 20, de 15 de Agosto de 1912.

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