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Os BARRETO, do Cadaval e de Rio Maior

Senhores da Quinta do Paço de Tronches,
Foreiros da Comenda de N.a S.a da Conceição de Rio Maior, da Ordem de S. Bento de Avis

                                                    

 

                                        Por Nuno Alexandre Dias Rocha

                                                Presidente da Direcção da EICEL1920

                                         

Pequena e muito nobre família do século XVI ao XVIII, senhores da antiquíssima Quinta do Paço do Tronches, ou Quinta da Saúde, com capela a Nossa Senhora da Saúde, na freguesia do Cadaval, edificada nos finais do século XIII por Gonçalo (Eanes) Bochardo, extinguiram-se antes que as casas da quinta fossem arrasadas, e esta dividida em muitas fracções, junto ao caminho que ao longo do rio Bogota liga o Cadaval à Vermelha” (1). Assim descreve os Barreto, ou Barreto de Faria, o ilustre genealogista António Francisco da Franca Ribeiro, na sua obra “Memorial das Famílias do Cadaval”.

 

Com efeito, embora muita da documentação relevante para o estudo desta família se tenha perdido ao longo dos séculos, os documentos que subsistiram atestam a relevância social dos seus membros durante várias gerações.

 

Referidos na documentação coetânea como “pessoas principais” da vila do Cadaval, receberam mercês régias compatíveis com esse estatuto. Grandes proprietários rurais, militares, oficiais ao serviço da Coroa no ultramar, doutores de leis, clérigos, místicos, a galeria de personagens que compõe esta família apresenta um retrato vívido da sociedade portuguesa entre 1580 e 1830.

 

Eram foreiros da Comenda de Nossa Senhora da Conceição de Rio Maior, da Ordem de S. Bento de Avis, com moinho, terras e casas na Ribeira de Rio Maior, onde deixaram descendência. Encontramos evidências da sua presença em Portugal, na região que se estende entre o Cadaval, Óbidos, Rio Maior e a antiga vila de Pederneira (Nazaré), e no Brasil, em Pernambuco e Minas Gerais.

§ 1º


I         NN BARRETO

Filhos:

1 (II)  Baltazar Barreto de Faria

Faleceu em Óbidos, ca. 1645.  Deixou terras e vinhas em herança ao seu irmão Belchior Barreto de Faria, que foram por este vendidas através de procuração passada a João Ferreira Barreto, a 6.7.1645 (2).

2 (II)  Belchior Barreto de Faria, que segue.

3 (II)  Nuno Rodrigues Barreto, que segue no § 2.º

 

II       BELCHIOR BARRETO DE FARIA

Nasceu em Vermelha, Cadaval, ca. 1580.

Cavaleiro Fidalgo. Senhor da Quinta do Paço de Tronches. Foreiro da Comenda de N.a S.a da Conceição de Rio Maior, da Ordem de S. Bento de Avis, com terras e casas na Panasqueira, Asseiceira e um pisão no lugar de Abuxanas, Rio Maior. Vivia ainda na sua Quinta no lugar da Vermelha em 1650, quando foi testemunha das inquirições para a Habilitação De Génere do seu conterrâneo António Gil.

Casou 1.a vez ca. de 1600, com Maria Cardosa, falecida em Rio Maior antes de 1618.

Residentes em Ribeira Abaixo, Rio Maior.

A 21.5.1608, sendo residentes na Ribeira de Rio Maior, Belchior Barreto de Faria e sua mulher Maria Cardosa, celebraram escritura de aforamento de um pisão no lugar de Abuxanas, Rio Maior, pertencente à Comenda de N.a S.a da Conceição de Rio Maior, da Ordem de S. Bento de Avis. Trata-se do único documento conhecido até esta data, no qual é mencionado o nome da primeira esposa de Belchior Barreto de Faria. Transcrevemos:

No Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1608 anos, em os 21 dias do mês de Maio do dito ano, na Aldeia da Asseiceira, limite do lugar de Rio Maior, ali presente o Licenciado Gregório Lopes da Fonseca, que por especial Provisão de Sua Magestade e seu mandado tem o Cargo de fazer tombo, medição e demarcação de todos os bens e propriedades que pertencem à Comenda do dito lugar, da Ordem de S. Bento de Avis, de que é comendador Ayres de Sousa de Castro; logo aí o dito Juíz mandou vir perante si Belchior Barreto de Faria, morador na Ribeira do dito lugar, e lhe fez perguntar a ele e sua mulher Maria Cardosa, por que título possuíam o Pisão e Paúl que está junto a ele, e se era em pessoas, se enfiteuta, e o que pagava dele e das propriedades anexas, e se tinham alguma dúvida ou embargos a se medir e demarcar e lançar-se no tombo da dita Comenda, e se conhecia ao Comendador e Ordem por seu Senhorio do dito Pisão e propriedades a ele anexas, e por eles foi dito que donde estava o dito Pisão eram matos antes que fizessem o Pisão e terras de pão, os quais matos foram tomados de Sesmaria, e depois da Escritura de Sesmaria se fizera o dito Pisão, e as terras que as romperam, e das terras e matos de vinte e um quatro, como dos outros caseiros da Asseiceira que não tinham dúvida nem embargos a se lhe medir e demarcarem, e lançar no tombo da dita Comenda e que reconhecem ao dito Comendador e Ordem por Senhorio do dito Pisão e propriedades dele.”

Casou 2.a vez na igreja matriz de Famalicão, Nazaré, a 22.12.1618, com Sebastiana Alemão de Mendonça Cisneiros, viúva do Capitão António Rodrigues, filha de Brás Alemão de Cisneiros, Moço da Câmara d’El Rei, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Sargento-mor da vila de Pederneira, e de Maria Malho de Bívar, neta paterna de Diogo Alemão de Cisneiros. Foram testemunhas Cristóvão de Brito, António Alemão, Pedro Jorge, Francisca Jorge e outras muitas pessoas.

Residentes na Quinta da Serra da Pescaria, Famalicão, Nazaré e na Quinta do Paço de Tronches, Vermelha, Cadaval.

 

Belchior Barreto de Faria era possuidor de escravos na sua Quinta do Paço de Tronches, conforme pode confirmar-se no registo de baptismo de Maria, filha de Maria de Santo António, escrava de Belchior Barreto de Faria, baptizada na Igreja de S. Simão da Vermelha, a 14.1.1649, e apadrinhada por Manuel Luís e Beatriz Dias.

 

Filhos do 1.o casamento:

1 (III) João Ferreira Barreto, que segue.

2 (III) Catarina Barreta, ou Catarina Cardosa

Foi madrinha, com o seu pai, em Vermelha, Cadaval, a 1.3.1649. Herdou títulos de aforamento de seu pai na Ribeira de Rio Maior, que transmitiu por doação a seu sobrinho João Ferreira Barreto (vid. § 3.º). S.m.n.

3 (III) Leonardo Barreto.

Herdou um Prazo na Comenda de N.a S.a da Conceição de Rio Maior, da Ordem de S. Bento de Avis, que possuíam seu pai, Belchior Barreto de Faria e sua mãe Maria Cardosa, constituído por um pisão e propriedades anexas no lugar de Abuxanas, Rio Maior. Por escritura de 3.4.1639, Leonardo Barreto, sendo então residente em Salvaterra de Magos, vendeu o dito pisão, compostos por vinhas, pomar, terras e arneiros de matos, árvores de fruto e sem fruto, a Manuel Velho e sua mulher Ângela de Torres, residentes em Rio Maior.

III      JOÃO FERREIRA BARRETO

Senhor da Quinta do Paço de Tronches.

Casou na Igreja de S. Simão da Vermelha, Cadaval, a 22.11.1632, com Maria da Silva Pereira, filha de Silvestre Fernandes e de Isabel Pereira. Foram testemunhas Baltazar de Abreu, Alcaide-mor da vila do Cadaval, Fernão Duarte e Fernão Martins, todos da mesma vila, e João Gomes Martins, Simão Gomes e Frutuoso Leal, moradores no lugar da Vermelha.

Residentes na Quinta do Paço de Tronches, Vermelha, Cadaval.

Filhos:

1 (IV) Maria da Silva Cardoso, que segue.

2 (IV) João Ferreira Barreto, que segue no § 3.º

3 (IV) Isabel

Nasceu em Vermelha, Cadaval, e foi baptizada na Igreja de S. Simão da Vermelha, Cadaval, a 15.1.1639. S.m.n.

4 (IV) Frei João do Espírito Santo

Frade da Ordem dos Carmelitas Descalços. Segundo a “Lusitânia Sacra”, recolheu-se cerca de 1645 no Convento de Santa Cruz do Buçaco, fundado pouco antes, em 1630, no município de Vacariça (Mealhada). Ali viveu trinta anos, falecendo em 1675 “com fama de Santo”.

Notas:

(1) RIBEIRO, António da Franca - Memorial das Famílias do Cadaval - Ribeiro. Leiria: Textiverso, 2011.

(2) Livro de Notas do Tabelião do Cadaval Jerónimo Rebelo de Aguiar, fl.87v. Arquivo Nacional, Torre do Tombo.

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