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[Opinião] Central Térmica

                                                    

 

 

                                      

                                            

                                            

 

 

 

Decorria o ano de 1977 e em Rio Maior vivíamos uma das mais acesas polémicas sobre um empreendimento que prometia, a concretizar-se, alterar profundamente a vida dos riomaiorenses: a exploração de uma das maiores riquezas do nosso subsolo – as lenhites.

A propósito, refira-se sobre o Couto Mineiro do Espadanal a existência de trabalho académico do Arq. Nuno Rocha.

 

Permitam-me aludir ao posicionamento das autoridades locais, e de alguns riomaiorenses, sobre a construção da central térmica que viabilizaria a exploração das lenhites.

 

Em Março daquele ano, o semanário O Riomaiorense publicava, em 11 e 17 daquele mês, já lá vão cerca de 40 anos, uma longa entrevista com o então Secretário de Estado da Energia, Eng. Rocha Cabral, em que aquele membro do Governo respondia a questões que eram levantadas, para além de fazer o ponto de situação do projecto, ao modo como ele se materializaria, e relevava o seu elevado interesse nacional.

 

Dizia então o Eng. Rocha Cabral:

“...salvaguarda técnica da poluição proveniente da emissão de gases e cinzas não afectar a população e os solos concelhios; o projecto já fazia parte do 1.o Plano de Fomento (+/- 1955); política do Governo e da EDP utilizar a metalomecânica nacional para fazer a maior parte do equipamento necessário; privilegiar os fornecedores nacionais; alteração da rede viária; quatro a cinco anos para a construção da central térmica; trinta a quarenta anos de exploração das lenhites; financiamento do projecto pela EDP; deslocação dos habitantes do Cidral e, se necessário, de indemnizações; salvaguarda do abastecimento de água para a população como para a agropecuária; criação de cerca de 500 novos postos de trabalho em Rio Maior e entre 1500 a 2000 na região; diminuição da factura energética a pagar ao estrangeiro; colocar os recursos naturais de Rio Maior ao serviço do país”.

 

As autoridades locais de então procuraram das mais variadas formas obter informação rigorosa em que consistia o projecto, assim como as boas e más consequências para Rio Maior.

 

Refiro dois dos textos publicados em O Riomaiorense, assinados pelo então Presidente da nossa Assembleia Municipal, saudoso Júlio Carreira, e por Armando Pulquério, exemplo de bairrismo, que teve entre outras actividades, para além de comerciante e jornalista, a promoção nos mais variados campos da vida cultural riomaiorense. Escrevia Júlio Carreira, no Riomaiorense de 11 de Março de 1977: “... homens de Rio Maior, têm na sua mão o futuro dos seus filhos e dos seus netos”, “aproveitar as vantagens da transformação de um valor hoje morto em progresso e bem-estar, anulando-se à partida todas as más consequências que qualquer empreendimento industrial contém sempre no seu âmago...”  e “central térmica em Rio Maior poderá ser fonte de progresso, como já o entendemos”.

 

Afirmava Armando Pulquério no Riomaiorense de 17 de Março de 1977: “... serão essa Central Térmica e essa preciosa reserva de dezenas de milhões de toneladas de lenhites... que fornecerão substancial ajuda para se concretizar velhos sonhos bairristas: vai Rio Maior transformar-se em escassos cinquenta anos, como por varinha mágica, de pacata e modesta vilinha em notável e movimentada urbe, onde a indústria, o comércio, etc. ...constituirão fundamentais dados no tablado da actividade riomaiorense” , “... ao contrário de alarmes ante a previsão de um empreendimento tão colossal em Rio Maior como a Central Termoeléctrica, devemos antes rejubilar com este poderoso empurrão efectuado a Rio Maior...

 

Na altura, alguns dos que não queriam que este Projecto avançasse alertavam-me com o perigo da chegada de “perigosos esquerdistas”, é bom recordar que estávamos em 1977, assim como com a consequente fuga de trabalhadores rurais para outros sectores de actividade, originando para os que ficassem um aumento de salário.

 

As autoridades locais não foram pro-activas na concretização do Projecto. Foram sim cautelosas, solicitando sempre mais esclarecimentos, respostas às muitas dúvidas que se iam colocando, etc. O certo é que não se avançou...

 

O que seria hoje Rio Maior, quase quatro décadas depois? Os desejos e sonhos de Júlio Carreira e Armando Pulquério ter-se-iam concretizado? Ou o pessimismo de alguns sobre as más consequências ambientais e sociais seria uma realidade?

 

O que sabemos é que a aludida riqueza do nosso subsolo está intacta e cada vez mais morta.

O tempo continuou imparável. Outras soluções para o desenvolvimento de Rio Maior foram tomadas. É difícil ser-se, na vida pública, ousado e ser-se visionário, mas sem ousadia, sem sonho, o mundo não pula nem avança.

 

Silvino Sequeira

 

"O que seria Rio Maior, hoje, se tem avançado a exploração das nossas lenhites?"

 

Figura 1 - Projecto de uma Central Termoeléctrica a instalar em Rio Maior. Perspectiva axonométrica. EDP, 1982.

© Arquivo EICEL1920

Figura 2 - Projecto preliminar de exploração do jazigo de lignites e Central Térmica. Delimitação da zona de protecção. EDP, 1982. © Arquivo EICEL1920

   Por Silvino Sequeira

   Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior entre 1985 e 2009

   Director da 5.a série de O Riomaiorense (1976)

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