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(Arquivo) Como nasceu a 2.a Série de O Riomaiorense (3)

Por António Custódio dos Santos

In O Riomaiorense (3.a Série) no. 267/268, de 25 de Agosto de 1963

 

 

 

 

Usou primeiro da palavra António Custódio que lhe disse: O prazer é todo nosso, prezado amigo senhor Ferreira. Lamentamos somente que o viéssemos encontrar na cama, pois ignorávamos completamente que se achasse doente. Fazendo votos sinceros pelo seu rápido restabelecimento, vimos cumprir o dever de lhe participar a próxima publicação de um jornal semanal com o título de O Riomaiorense. Isto caso o bom amigo não tenha quaisquer restrições a fazer, visto já haver publicado uma folha com este mesmo nome, reconhecendo-lhe, portanto, o direito de absoluta prioridade.

 

- Ó meus queridos amigos! Que grande amabilidade e que grande gentileza para comigo, que jamais poderei esquecer. Essa notícia constitui uma consoladora alegria para a minha alma, pois suspendi, com infinita saudade, a publicação de O Riomaiorense, porque o público no nosso meio ainda não compreendia a vantagem de ter à sua disposição um órgão que defendesse, sempre que necessário, as reivindicações deste generoso Torrão! Substituí-o pela Civilização Popular, confiado em que o magistério primário em geral reconhecesse quão importante era para toda a classe a existência de um arauto que iria a todos os recantos do país gritar as suas misérias e pugnar pelas consequentes melhoras, mas também não fui mais feliz!

 

Cada número que ultimamente tem saído é escrito quase totalmente por mim, e nos dias da impressão e composição, sou eu com a ajuda de dois garotos, que agarro aos caixotins e à Minerva, esta já completamente incausta, para poder trazer o jornal para a rua! Mas isto não pode continuar. Meu filho, o Augusto, um grande filho que me tem valido em infindos apertos, diz que eu estou cavando, cada vez mais, a própria sepultura e quer, a todo o transe, que acabe também com a Civilização Popular. Ora isto tem fatalmente que acontecer dentro de muito breves dias, porque além da minha saúde não poder suportar mais tantos sacrifícios a máquina em que a folha é impressa, está completamente imprestável.

 

O vosso Riomaiorense vem, pois, muito a propósito, e eu congratulo-me de comoção com o seu advento, desejando para ele e para os seus orientadores, largos anos de vida próspera, venturosa e feliz. Lamento que a minha Minerva não esteja em condições, porque isso lhes facilitaria a publicação.

Chegou a vez de usar da palavra Francisco Santos. Antes, porém, António Custódio quis agradecer a generosidade das suas palavras e a boa disposição com que via a saída do novo Riomaiorense, acompanhando a valiosa opinião do seu bom filho, médico, que o aconselhava a recolher à doce tranquilidade do lar e a tratar exclusivamente da sua saúde.

Cumprido este dever de consciência concluiu: agora o nosso Francisco Santos, de quem partiu a ideia da publicação do Jornal, vai explicar-lhe como nasceu essa ideia, como resolveu o problema da impressão fora de Rio Maior, e enfim, tudo o que se passou numa reunião ocasional de cinco amigos que sem prévia combinação, se juntaram no Cabo do Lugar, etc.

 

Francisco Santos narrou então, ao seu velho e incansável colega no magistério todos os detalhes da reunião em que foi resolvida a publicação da nova folha, quem íam ser os seus responsáveis, como ele se lembrara de fazer a impressão em Leiria e, finalmente, tudo quanto lhe pareceu que tão dinâmico colega gostaria de saber.

 

Este, com uma curiosidade que se adivinhava na vivacidade dos seus olhos já um tanto cansados, e na expressão do seu rosto sulcado por fundas rugas que denotavam sofrimento e trabalho, ouvia tudo com incontida satisfação para no final repetir: - Pois meus queridos e bons amigos. Mais uma vez vos agradeço a generosa atenção que vos dignaste ter para comigo, e faço votos a Deus, para que com tão bons timoneiros a esperançosa nau que ides lançar nas águas esquecidas do nosso adorado Rio Maior, tenha o condão de as tornar lembradas e fecundas, de modo a dar a esta boa Terra que todos estimamos como se aqui houvéssemos nascido, muito do que ela mais urgentemente necessita. Estou velho, doente, e sinto a vida a fugir-me cada vez mais. Em todo o caso no curto período de tempo que possa ainda estar por cá, encontro-me ao vosso inteiro dispor. Agradeceram, ambos, efusivamente, afirmando-lhe que também todos os componentes do jornal, individualmente, e o prórpio novo Riomaiorense, ficavam inteiramente às suas ordens. Retiraram-se, pois, com uma viva saudade no coração, porquanto sentiam que aquela vida preciosa e distinta, à sombra da qual várias gerações haviam recebido a salutar e benéfica luz da instrução, não poderia ir muito longe!

 

 

A Reunião da Administração do Concelho

 

No dia 30 de Março, como estava resolvido, houve, no gabinete do Administrador do Concelho, a primeira reunião oficial dos componentes do nosso hebdomadário. Eram 16 horas e ninguém faltou. Cada um apresentou o que havia produzido para saír no primeiro número, lendo António Custódio e sujeitando-o a aprovação, o editorial com o título O nosso Programa que todos acharam bem, não sofrendo qualquer alteração. Leu ainda uma outra produção, intitulada Ao de Leve informando que era para uma secção que desejava manter no jornal e que igualmente mereceu unânime aprovação. Francisco Santos explicou que sendo ele professor e sabendo-se que a “Civilização Popular” ía suspender a publicação, natural era que o nosso “O Riomaiorense”, mantivesse uma secção pedagógica, que ele se comprometia a sustentar, lendo o seu primeiro trabalho no género, que igualmente foi aprovado sem discussão. Apresentou ainda uma carta do proprietário da Imprensa Comercial à Sé, em Leiria, respondendo a uma outra sua carta em que perguntava se estava disposto a imprimir um jornal semanal que se ía publicar em Rio Maior, e na qual o proprietário da Imprensa Comercial afirmava que a sua tipografia estava à incondicional disposição, podendo começar a enviar já os originais e dando-lhe para tanto as instruções necessárias que seriam escutadas com o maior prazer. Todos se congratularam com a rapidez da resposta e os bons resultados colhidos pelo colega, Redactor Principal, felicitando-o por tal motivo.

 

António Cardoso pediu licença para frisar que conforme se esclarecia no programa já aceite por todos, o jornal seria apenas em matéria política, republicano independente, sem qualquer injunção partidária, muito embora, os seus componentes, individualmente, pudessem seguir, quando o entendessem, a corrente que melhor satisfizesse os seus ideais democráticos.

Figura 6 - O antigo edifício dos Paços do Concelho, Anos 10. © Reprodução de Fernando Duarte, 1979.

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