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Conservação e musealização do património mineiro (2)

 

 

 

 

 

 

 

 

Desafios actuais ao património mineiro e industrial

 

O fenómeno de desindustrialização que nas últimas décadas marcou as sociedades ocidentais teve profundas consequências na conservação do património mineiro, constituindo o nosso país, infelizmente, um exemplo dessa situação. Efectivamente, quando uma mina encerra a sua actividade as suas instalações são abandonadas, os equipamentos vendidos para a sucata, surgem situações de vandalismo e tudo, ou quase tudo, desaparece muito rapidamente.

 

A inexistência de instituições que tenham como missão a recolha destes espólios mineiros – como, por exemplo, um Museu Nacional Geológico e Mineiro – agrava ainda mais a situação, perdendo-se assim um património de enorme importância para a salvaguarda da memória mineira do país. Portugal dispõe de um número muito reduzido de museus mineiros, todos eles pequenos museus em grande parte criados por iniciativa de autarquias, câmaras e juntas de freguesia que, não obstante o trabalho notável que muitos desenvolvem, uma parte deles não dispõe de instalações adequadas e dos indispensáveis meios humanos e financeiros, como a lista que aqui apresentamos traduz muito claramente. Assim, quanto a museus mineiros, encontramos os seguintes: Museu Mineiro de S. Pedro da Cova, Museu da Lousa de Valongo, Museu do Ferro e da Região de Moncorvo, Centro de Ciência Viva do Lousal, Museu Mineiro da Barroca Grande (Panasqueira), Museu do Quartzo (Viseu), Museu do Mármore (Vila Viçosa), Museu da Pedra (Marco de Canavezes), Museu da Pedra (Cantanhede), Museu Municipal de Aljustrel, Centro Interpretativo de Tresminas, Ecomuseu das Salinas de Rio Maior, Museu do Canteiro (Alcains), Museu Mineiro de Vieiros (Amarante), Centro de Interpretação das Minas de Ouro de Castromil e Banjas (Paredes), Casa do Minério – Museu do Volfrâmio (Ribeira de Pena) e o Museu Municipal de Sever do Vouga, que também aborda a actividade das minas do Braçal. No que diz respeito a Projectos para a criação de museus mineiros: Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro de Rio Maior (figura 2), Museu do Carvão e das Minas do Pejão, Museu das Minas de Argozelo (Vimioso) e Museu das Minas da Borralha. Apesar das dificuldades que na sua maior parte sentem para garantirem um funcionamento regular, é de saudar todas estas iniciativas, que surgiram em resultado da preocupação das populações locais em salvaguardar o seu património e, consequentemente, não perderem a sua memória e identidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Impõe-se, por conseguinte, reforçar estes museus mineiros e, para além disso, criar um Museu Nacional Geológico e Mineiro que possa mostrar o nosso património geológico e a exploração mineira através dos tempos. A não existência de um museu deste tipo – assim como de um Museu Nacional da Industrialização –, os quais deveriam ter sido criados logo após o 25 de Abril, resulta da falta de sensibilidade por parte dos sucessivos decisores políticos, mas também de uma herança digamos, distorcida, da rede de museus do Estado, que após o 25 de Abril ninguém teve coragem para corrigir. Os números traduzem muito claramente esta distorção: no que diz respeito aos museus do Estado, a cidade de Lisboa possui 11 museus, ou seja, 39,29 % do total nacional, entre os quais 8 museus nacionais, correspondendo a 80,00 % do total nacional.

 

Consequentemente, no resto do país (fora de Lisboa) existem 60,71% do total de museus do Estado, mas apenas três museus nacionais: o Museu Soares dos Reis no Porto, o Museu Machado de Castro em Coimbra e Museu Grão Vasco em Viseu, sendo que este último só obteve a designação de museu nacional em 2015, uma situação que não se verificava desde 1965, há 50 anos. Contrariar esta situação, que privilegia Lisboa em detrimento do resto do país, constitui não apenas um desafio para a salvaguarda do património mineiro e industrial, mas principalmente uma exigência do Estado democrático e da assunção das suas responsabilidades em garantir e promover, no domínio museológico, uma política representativa e equilibrada no todo nacional.

 

Para além do problema da carência de uma instituição museológica de âmbito nacional o património mineiro padece também da não existência de um Inventário sistemático a nível local, regional e nacional, que permita um conhecimento rigoroso das diferentes estruturas patrimoniais ainda existentes e do seu estado de conservação: de cavaletes, galerias, poços, arquivos (incluindo fotografias e cartografia), colecções de minerais, etc.

 

 

Figura 2 - Futuro Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro de Rio Maior. Estado de conservação em Julho de 2015. © Nuno Rocha, Arquivo EICEL1920.

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