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(Opinião) Encontro das Comunidades Mineiras . Mesa de Abertura

 

 


                                    

 

 

 

 

 

 

Cumpre-me agradecer aos representantes das entidades presentes o acolhimento a esta realização e a sua presença na Mesa de Abertura, bem como a presença de todos os que se inscreveram neste Encontro.

 

Rio Maior acolhe as comunidades mineiras quando – esperamos – a cidade já não se confronta com dúvidas acerca da importância deste património. Uma importância que é local e nacional, bem como potencial para integrar redes internacionais.

 

As minas de lignite do Espadanal foram exploradas desde 1916, portanto na I República e quando a Europa estava em plena Primeira Grande Guerra, sendo depois utilizadas pelo governo do Estado Novo para cumprir uma função de reserva estratégica de combustível durante a Segunda Guerra Mundial.  No pós-guerra, precavendo a eventualidade de um novo conflito internacional, o Estado apoiou financeiramente o aproveitamento industrial da mina através da instalação de uma fábrica de briquetes, tornando-se accionista maioritário da empresa concessionária.

 

Presentemente, estas comemorações pretendem marcar os 100 anos e servir, também, de chamada de atenção para as questões da classificação, da salvaguarda e da valorização.

 

Sabemos como, do já vasto leque de edifícios industriais classificados pela Direcção-Geral do Património Cultural e outros inventariados ou mesmo classificados por autarquias, fazem parte obras públicas ou infraestruturas relacionadas com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial. Quanto à salvaguarda e valorização, o modelo mais interessante de intervenção é o de preservar o todo – ou uma parte substancial da forma original –, transformando-o num espaço vivenciado com significado histórico e valor, para além da envolvente relacionada com a actividade original, como as minas, por exemplo.

 

O património não existe, porém, por direito adquirido. É uma realidade construída pelo esforço e dedicação dos homens. Para que um edifício adquira o estatuto de património, é necessário um longo e aprofundado trabalho de investigação e uma acção persistente de sensibilização e mobilização da comunidade para o seu reconhecimento e para a sua defesa.

 

O património mineiro de Rio Maior tem tido algumas incompreensões. Lembramos que uns viam na fábrica de briquetes não mais do que algumas paredes velhas sem interesse ou que a memória visual se limitava à grande chaminé. Hoje sabemos que esta é, apenas, uma parte de um importante complexo industrial.

 

Foi o trabalho científico e cívico, iniciado e desenvolvido pelos riomaiorenses, que permitiu a salvaguarda do património que hoje comemoramos.

 

Expressões como “património mineiro riomaiorense” ou “complexo mineiro do Espadanal”, que fazem hoje parte do discurso, não existiam antes de 2004, foram cunhadas por cidadãos dedicados à sua terra, que persistiram no sonho de recuperar para o futuro a mais importante estrutura edificada na cidade durante o século XX.

 

A estes cidadãos se juntaram com o tempo dezenas de riomaiorenses e amigos de Rio Maior, num trabalho que resultou na criação, em 2010, da Associação EICEL1920, que reúne actualmente mais de uma centena de associados.

 

O trabalho desta associação é, hoje, reconhecido pela comunidade e, depois de uma esforçada persistência, vem sendo reconhecido pelas autoridades locais. Um reconhecimento que se reflectiu, em 2013, na aprovação de um voto de louvor pela Assembleia Municipal de Rio Maior.

 

Foi possível, desde a criação da EICEL1920, valorizar o património cultural do concelho, "com os recursos técnicos e financeiros próprios dos associados, colocados ao serviço dos riomaiorenses de forma voluntária e gratuita", através dos pontos seguintes:

 

  1. Do reconhecimento científico da importância do património mineiro riomaiorense sustentado em tese de mestrado defendida no Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sob o título "Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade”, da autoria do Presidente da Direcção, arquitecto Nuno Rocha.

  2. Da mobilização da comunidade riomaiorense para a defesa do património mineiro, reunindo mais de uma centena de associados e criando uma Comissão de Antigos Funcionários, com os quais vem registando as memórias do trabalho na mina.

  3. Da recuperação de um importante espólio fotográfico e de equipamentos do antigo couto mineiro do Espadanal, em colaboração com a comunidade e com os descendentes dos antigos funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica Limitada, que a associação pretende disponibilizar aos riomaiorenses com a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro.

  4. Da promoção do envolvimento das novas gerações na valorização do património concelhio, através do desenvolvimento de um trabalho de grande qualidade com a comunidade escolar, no âmbito da disciplina Área de Projecto, nomeadamente com a Escola Secundária de Rio Maior, trabalho apresentado na III Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior.

  5. Da introdução em Rio Maior do Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal, onde se espera que a Mina do Espadanal venha a ser inscrita, abrindo-se caminho à inscrição das Marinhas do Sal neste Roteiro pela Câmara Municipal de Rio Maior.

  6. Da disponibilização ao município de um contributo importante para o reconhecimento do património mineiro riomaiorense no Plano Estratégico de Desenvolvimento de Rio Maior, documento que adoptou as propostas da EICEL1920 e transcreveu os estudos da autoria dos seus membros.

  7. Da inversão do estado de abandono a que estava votado este complexo mineiro, alertando para a sua utilização como depósito de materiais de construção e resíduos, bem como passando à prática com a disponibilização de trabalho voluntário para a sua limpeza, nomeadamente através da realização, até esta data, de 6 acções voluntárias de conservação, cujos resultados estão patentes e às quais a associação se propõe dar continuidade de forma regular. Contámos, nestas acções de conservação, com o importante apoio da Junta de Freguesia de Rio Maior.

  8. E por último, mais recentemente, através da recuperação do mais antigo título da imprensa local, o jornal O Riomaiorense, colocado ao serviço da divulgação do património cultural.

 

Pretendemos e podemos, no entanto, ir mais longe.

 

  1. Apresentámos à Câmara Municipal de Rio Maior a disponibilidade da EICEL1920 para realizar obras de recuperação faseada da fábrica de briquetes, com recurso a apoios no âmbito da Lei do Mecenato. Propomos, como primeira fase, a recuperação de um dos edifícios que compõem o complexo mineiro, mediante a celebração de um contrato de comodato com a Câmara Municipal, para ali instalarmos um centro de interpretação do património geológico e mineiro do concelho.

  2. Pretendemos criar em simultâneo um Museu Virtual do Couto Mineiro do Espadanal, cuja elaboração está  em curso.

  3. Obtivemos a disponibilidade da Direcção-Geral de Energia e Geologia para acolher uma exposição interpretativa (física) e o futuro Museu Virtual no Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal. Os participantes neste Encontro poderão, no final do dia, visitar uma parte reduzida do material expositivo que pretendemos disponibilizar em breve na nossa sede e que ficará disponível para instalação na fábrica de briquetes.

 

 

A EICEL1920 está disponível para trabalhar com os riomaiorenses.

 

E se houver acolhimento, Rio Maior reforçará o seu papel no património industrial e honrará quem, trabalhando arduamente, foi o pulsar de um tempo exemplar de uma terra que se habituou a uma marca social e urbana, hoje desejavelmente indestrutível.

 

Resta-me agradecer a todos os que contribuem para a realização deste Encontro, desde logo a Direcção liderada à distância pelo arquitecto Nuno Rocha, estrutura aqui presente por todos os seus restantes membros, bem como agradecer a outras pessoas e instituições que deram o seu apoio fundamental e dão, no caso dos palestrantes, um fundo de conhecimento sobre estas minas, os seus contextos e recursos humanos que lhes fizeram a história e que são a essência e a razão de estarmos aqui hoje.

 

Escola Superior de Desporto de Rio Maior

23 de Julho de 2016

Jorge Mangorrinha

"O património não existe, porém, por direito adquirido. É uma realidade construída pelo esforço e dedicação dos homens. Para que um edifício adquira o estatuto de património, é necessário um longo e aprofundado trabalho de investigação e uma acção persistente de sensibilização e mobilização da comunidade para o seu reconhecimento e para a sua defesa."

 

 

Figuras 1 a 4 - Fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, detalhes e maqueta, 23 de Julho de 2016.  © Jorge Mangorrinha, 2016.

   Por Jorge Mangorrinha

   Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da EICEL1920

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