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(Entrevista) MINEIROS de Rio Maior (6)

 

 

 

4 - Património Mineiro                                                                                                         

 

 

 

Nuno Rocha/ O Riomaiorense: Como acompanharam a degradação e destruição do património das minas de Rio Maior ao longo dos últimos 40 anos?

 

 

 

João Severino: Para mim foi uma tristeza! Triste, porque aquilo está tudo devassado. Eu fui lá mostrar a fábrica ao meu neto, aqui há uns anos e fiquei... deu-me vontade de chorar! Aquilo estava tudo devassado, devassado de uma tal maneira que não se admite numa época destas! Tudo lixo! Fui mostrar o túnel e não é que a gente vai lá abaixo e estava lá uma campa do cemitério? Montes de lixo, camionetas queimadas... Uma coisa do mais triste que eu vi. Deu-me vontade de chorar... Quem trabalhou ali tantos anos, estava aquilo tudo zelado... E estes gajos devassaram isto tudo. Um património destes!

 

Nuno Rocha/ O Riomaiorense: O Sr. Marcelino Machado acompanhou de perto este processo de degradação, uma vez que reside próximo do complexo mineiro e foi vigilante daquele espaço até 1999.

 

Marcelino Machado: E de que maneira! Bom. Naquela altura, como o estaleiro estava ali, aquilo estava mais ou menos. Houve o estaleiro da ACTA, antes da Câmara. Eles próprios zelavam. Quando a Câmara funcionou ali, também aquilo estava mais ou menos zelado. O pior foi quando a Câmara saiu dali. Então é que apareceram os abusos, de descarregarem entulho aqui, descarregarem pneus acolá, descarregarem areia ali... Encheram aquilo tudo de lixo.

Enquanto a Câmara lá esteve aquilo andou mais ou menos, porque eles precisavam do espaço, e mantinham o espaço mais ou menos limpo. Depois de saírem dali é que foi um desastre.

 

 

 

Nuno Rocha/ O Riomaiorense: Que utilização gostariam que fosse dada à antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal?

 

 

 

João Severino: Eu gostava que aquilo fosse aproveitado para cultura. Um museu e outras coisas. Que a juventude pudesse dizer: - Aqui fez-se isto, fez-se aquilo... Para a juventude saber o que foram as minas. Que é uma cultura. A história é uma cultura. E dá impressão que estas pessoas não se interessam pela cultura, nem pela história. É assim... É uma tristeza!

 

José Gomes: Eu gostaria de ver reparar aquele túnel até à arreação lá em baixo. Aquilo lá em baixo é em abobadas de cimento. Era grande e estava electrificado. Era muito grande até chegar lá. Se levassem lá os cachopos da escola... aquilo era bonito. E zelar aquela fábrica, pôr um centro turístico ali, mais que não fosse, para os miúdos verem onde foram as minas de Rio Maior.

 

João Severino: Devia ter sido aproveitado logo. Nunca deixar chegar àquele ponto em que está!

 

Alcino Marques: Eu gostaria... gostaria... mas não vou gostar porque não vão fazer nada... Com estes gajos?...

 

Manuel Palminha: Eu gostaria de a ver trabalhar novamente, como devia ser!

 

José Gomes: Então, mas para isso tinha de abrir a mina. Ela só não abriu a céu aberto porque aqui os “moquistas” não deixaram.

Miguel da Palma: Eu gostaria de ver ali um museu da mina. Pelo menos um museu, naquela parte principal que está mais preservada.

 

Marcelino Machado: Primeiro que tudo, arranjar lá uma sala para o museu, e depois tentar restaurar o resto para outros fins.

 

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"Para mim foi uma tristeza!

Triste, porque aquilo está tudo devassado. Eu fui lá mostrar a fábrica ao meu neto, aqui há uns anos, e fiquei... deu-me vontade de chorar!"
 

João Severino

Fábrica de briquetes da Mina do Espadanal. Estado de conservação actual. © Nuno Rocha, 2014.

"Eu gostaria de ver ali um museu da mina. Pelo menos um museu..."
 

Miguel da Palma

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