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Museu Mineiro de S. Pedro da Cova. 500 milhões de anos de história (1)

 

 

                                        Por Micaela Santos

                                                Museu Mineiro de S. Pedro da Cova

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Por manifesta impossibilidade económica de continuar com a exploração destas Minas, em virtude do cancelamento das expedições para a Central da Tapada do Outeiro, e se terem gorado as negociações com a Companhia Portuguesa de Electricidade para a sua integração, sou encarregado de transmitir a todo o pessoal que a Ex.ª Administração desta Companhia resolveu, ontem, parar a laboração destas Minas a partir do dia 25 do corrente mês (exclusive).” (1)

Em março de 1970, a laboração das Minas de Carvão de São Pedro da Cova pára, deixando a maioria dos seus operários sem emprego. Dá-se então início ao processo de desindustrialização e de lutas sociais e judiciais em São Pedro da Cova.

A Revolução de Abril de 74, que coloca fim a um vasto conjunto de constrangimentos à população portuguesa, permitiu que em São Pedro da Cova se fizesse sentir o Poder Popular. (2)

E porque a população acreditava que o Património da Companhia das Minas de Carvão de São Pedro da Cova (CMCSPC) deveria ser da freguesia, a 22 de maio de 1975, alunos e professores da escola preparatória D. Afonso V, moradores do bairro mineiro do Passal, moradores da Bela Vista e o Grupo de Teatro Circulo Independente ocuparam os edifícios da CMCSPC sitos no antigo complexo industrial mineiro da freguesia, dando origem ao que se veio a chamar de Centro Revolucionário Mineiro (CRM).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

É a partir deste momento que a população minera local “descomprime a mola” (3) e sente que o poder capitalista chegara ao fim, alcançando agora o reconhecimento do seu trabalho e o respeito pelo ser Mineiro. Sentiram também que alguém estava disposto a lutar pelos seus problemas no que diz respeito à habitação, saúde e reformas de diferente cariz.

Várias foram as atividades aqui desenvolvidas nomeadamente de cariz cultural, recreativa, desportiva, social, económica e de apoio à infância.

No âmbito das comemorações do primeiro aniversário do CRM abrem-se as portas do Museu Mineiro. No jornal “O Diálogo” pode ler-se: “No passado dia 22 de Maio foi formalmente aberto ao público o Museu Mineiro. Visitado por muitas centenas de pessoas, tanto antigos trabalhadores das minas como pessoas que nada ou pouco conheciam dessas minas, parece ter despertado interesse, o que é importante para o museu. Já se podem observar as condições sociais que existiam nas minas, como os aspetos geológicos e técnicos da exploração do carvão...”. “Também ultimamente se tem enriquecido o Museu com mais peças, algumas compradas na Sucata para onde foram levadas depois do fecho das minas, outras dadas por antigos trabalhadores que ainda as tinham em casa. Assim têm aparecido capacetes, gasómetros, um pipo para a água, pontas de brocas, latas de carboneto, martelos, isqueiros, caixas de tabaco, enfim!, todos aqueles objectos que acompanhavam os mineiros e que agora poderão ser recordados por quem os usava e conhecidos por quem nunca andou pelas minas. Novamente se faz um pedido às pessoas que tenham qualquer objecto relacionado com as minas e que compreendam que é melhor estarem guardadas juntos a outros do que estarem arrumadas em qualquer aido ou armário, esquecidos até que um dia alguém os deite fora.” (4)

A partir deste artigo percebe-se que os objetos expostos foram recolhidos em sucatas e doados por antigos trabalhadores mineiros ou seus familiares. O seu público-alvo eram os antigos trabalhadores mineiros e público em geral. Num outro artigo do mesmo jornal percebe-se que o objetivo da criação deste Museu está essencialmente ligada à necessidade de homenagear todos aqueles que trabalharam nas minas e “lembrar agora e no futuro o ambiente de trabalho em que esses homens e mulheres estiveram sujeitos”. (5)

Figura 1 - Aspectos do Museu Mineiro de S. Pedro da Cova. © Museu Mineiro de São Pedro da Cova.

(1)

Aviso de 4 março de 1970, destinado ao pessoal, a informar sobre a paragem de laboração. Note-se que a CMCSPC só se dissolveu com empresa em 1998.

(2)

Atribuição ao povo da capacidade de resolução dos seus problemas. Traduziu-se, por exemplo, na criação de comissões de trabalhadores rurais, comissões de operários e comissões de moradores.

Figura 2 - Discursos após a ocupação dos escritórios da CMCSPC, 1975. © Adriano Rangel.

(3)

Expressão utilizada por Rui Fonseca, um dos entrevistados da recolha oral realizada no âmbito da exposição “Centro Revolucionário Mineiro”, patente no Museu Mineiro de São Pedro da Cova entre 22 de maio a 31 de outubro do ano de 2015.

Figura 3 - Carreteiros. © Museu Mineiro de São Pedro da Cova.

(4)

FONSECA, Carlos – “O Museu”. O Diálogo – Jornal de São Pedro da Cova. São Pedro da Cova, Ano I, nº. 10, pág. 2, junho de 1976

(5)

FONSECA, Carlos – “O Museu”. O Diálogo – Jornal de São Pedro da Cova. São Pedro da Cova, Ano I, nº. 9, pág. 5, maio de 1976

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