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[Reportagem de Arquivo) A Visita do Ministro da Economia (2)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois foram visitadas a Central Eléctrica (figura 4), onde está a ser montado um novo motor de 200CV, e a central de esgotos de águas da mina, onde são bombeados 60 a 80 m3 por hora.

 

Pelo Senhor Director Geral dos Serviços Industriais foi focada, perante sua excelência, a utilização da lenhite seca para o fabrico de hidrogenia, para adubos azotados sintéticos e a utilização do caminho-de-ferro mineiro para serviço do público. Sua Excelência dirigiu-se com a comitiva, até à Quinta de S. Paio (figura 5), onde observou o trabalho das Sondagens do Serviço de Fomento Eléctrico.

 

Seguiu-se uma rápida visita às instalações do pessoal, escritórios e oficinas finda a qual a empresa ofereceu ao Senhor Ministro e à Comitiva um porto de honra no qual usou da palavra o Sr. Dr. Astério Rosa (figura 6).

 

 

O discurso do Sr. Administrador Delegado

 

 

Senhor Ministro:

 

Acedendo ao nosso convite, teve Vossa Excelência a bondade de se deslocar até Rio Maior a fim de visitar as nossas minas, pelo que estamos altamente sensibilizados e nos confessamos profundamente reconhecidos.

Muito e muito obrigado.

Ao Director Geral de Minas, senhor engenheiro Castro Solla, agradecemos a sua presença, afirmando-lhe, mais uma vez, a nossa elevada consideração, com o reconhecimento pelo seu prestimoso auxílio que sempre – de há anos, nos tem dispensado.

Ao Director Geral dos Combustíveis, senhor engenheiro Ricardo Graça, com muito apreço, daqui lhe endereçamos os nosso melhores cumprimentos, pedindo ao senhor engenheiro Alexandre Matias que deles seja portador, e justo é recordar, e pôr em relevo, a clara objectividade com que recebeu, e logo incentivou, a ideia deste nosso empreendimento, pondo toda a sua boa vontade e franca cooperação no estudo do ponto de vista científico, técnico e económico, da utilização da lenhite no que se refere, conforme ora projectado, à sua transformação em briquetes e possibilidades da sua distribuição e consumo.

O Comissário do Governo, senhor engenheiro Ferreira do Amaral, aceite os nossos cordiais cumprimentos.

Para que poucas sejam as nossas palavras, limitamos, de antemão, o tempo, escrevendo, sobre o joelho, umas breves e despretensiosas notas de algumas passagens da vida industrial desta Empresa.

Na verdade, não veio Vossa Excelência a Rio Maior para ouvir discursos, mas para ver e julgar com razão esclarecida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Assim tem Vossa Excelência à vista a nossa mina.

É possível que, aparentemente, as impressões colhidas, num simples passeio que se faça à superfície, não deslumbrem, mas a reflexão cedo lembrará que o valor industrial de qualquer jazigo se não aquilata pelos sumptuosos edifícios e espectaculosos apetrechamentos (o que tudo em pouco tempo se instala), - antes se determina pelo volume e teor de substancias úteis evidenciadas por trabalhos conscienciosamente feitos para esse fim, e preparação de forma a permitir a extracção do minério: - a preparação de um jazigo, não se improvisa, requer, como sucedeu com o nosso, anos seguidos de trabalhos.

Foi nesse rumo de ideias que se actuou e se desenvolveram os nossos trabalhos.

E se a riqueza não é grande em edifícios e apetrechamento, os trabalhos, e dispendiosos, de mineração foram levados a cabo com todo o rigor técnico, - sempre sob a atenta fiscalização dos serviços do Fomento Mineiro, que nunca nos regateou a sua ajuda, executando-se rigorosamente o plano oficialmente estabelecido de preparar o jazigo, como está, para uma extracção diária de 500 toneladas.

Desta sorte, o jazigo está, com efeito preparado com uma vasta rede de galerias, na extensão de dez quilómetros, poços, estação de esgoto, central de produção de energia para serviços da mina, etc...

Por outro lado, as reservas mínimas reconhecidas estão hoje avaliadas, nesta zona carbonífera de Rio Maior, em cerca de 16 milhões de toneladas, consoante a autorizada opinião do senhor Director Geral de Minas e a interessante e relevante exposição do senhor engenheiro Guimarães dos Santos, Director do Fomento Mineiro, ouvidas há pouco, durante esta visita e que tanta satisfação trouxeram a Vossa Excelência, e, em particular, a esta Empresa.

Portanto, é evidente, sem ser preciso enaltecer, o valor industrial do jazigo para o fomento nacional.

 

Mas será de pensar e perguntar, olhando o volume de tonelagem de lignite que se acumula nos nossos parques, porquê e para quê se faz tal preparação?

Há que regressar a 1942 para se poder dar uma resposta satisfatória.

É que em 1942, em face das emergências da última guerra, o Governo – sendo Ministro da Economia o senhor Doutor Rafael Duque e Subsecretário de Estado o Professor Engenheiro Ferreira Dias, reconheceu a urgência e a imperiosa necessidade pública de que fosse preparado este jazigo para uma extracção da grandeza de 500 toneladas diárias, em ordem a evitar-se que, pela escassez de carvão estrangeiro, a indústria do sul do País viesse a paralisar.

Dizia-nos, nessa ocasião, o Presidente da Comissão Reguladora do Comércio de Carvões, senhor engenheiro Magalhães Ramalho, a quem gostosamente rendemos aqui as nossas homenagens: já alguém pensou no que seria Lisboa sem água e sem luz?

E, a seguir, em 1945, o Professor Engenheiro Ferreira Dias escrevia no seu livro “Linha de Rumo”: “Se hoje continua a haver electricidade no distrito de Setúbal e uma reserva de segurança quanto a Lisboa, talvez a Mina de Rio Maior e o seu caminho de ferro não sejam inteiramente estranhos a tal facto, que só não anda nas trombetas da fama porque ninguém pensou no que seria o facto contrário”.

Preparou-se então, em obediência ao Decreto-Lei 32270 de 19 de Setembro de 1942, a nossa mina para uma extracção diária de 500 toneladas, e este mesmo Decreto-Lei determinou que a Comissão Reguladora do Comércio de Carvões construísse, como construiu, por força das suas próprias receitas, um ramal de caminho de ferro de 30 quilómetros entre Vale de Santarém e Rio Maior destinado ao escoamento da lignite para o mercado consumidor.

Este ramal, embora com o fim restritamente mineiro, foi construído em via larga com vista a poder fazer-se possivelmente, mais tarde – satisfazendo a almejada e velha aspiração desta região, o seu prolongamento até às Caldas ou Óbidos, ligando a linha do Norte com a de Oeste, até com o porto de Peniche.

Figura 4 - Visita à Central Eléctrica da Mina do Espadanal, no pólo dos Bogalhos. © Colecção Luís Falcão Mena, Arquivo EICEL1920.

Figura 5 - Visita aos trabalhos de sondagem na Quinta de S. Paio. Ao centro: Eng. Ferreira do Amaral, o jovem repórter de O Riomaiorense, António Feliciano Júnior, e Dr. Ulisses Cortês. © Colecção Luís Falcão Mena, Arquivo EICEL1920.

Figura 6 - Porto de Honra nos escritórios da EICEL. Da esquerda para a direita: Dr. Ulisses Cortês, Eng. Castro e Solla (?), Eng. Alexandre Matias e Dr. Astério Rosa. © Colecção Luís Falcão Mena, Arquivo EICEL1920.

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