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Os ROCHA, do Cadaval e de Rio Maior
 

                                                    

 

 

                                         

§ 2º


III       GREGÓRIO DA ROCHA

Filho de João da Rocha e de Teresa Rosa (vid. § 1º, nº II).

Nasceu em Adão Lobo, Cadaval, a 11.2.1764, e foi baptizado na Igreja de N.a S.a da Conceição do Cadaval a 26.2.1764 (115). Foram padrinhos Carlos Freire, tio materno, e Josefa Rosa, ambos do lugar de Adão Lobo, Cadaval. Faleceu em Ribeira Abaixo, Rio Maior, a 26.09.1844, e foi sepultado no cemitério público de Rio Maior (116).

Profissão: Moleiro.

Casou 1.a vez na Igreja de N.a S.a da Conceição do Cadaval, a 2.10.1789 (117), com Cândida dos Santos, nascida na vila do Cadaval a 19.10.1767, baptizada na Igreja de N.a S.a da Conceição do Cadaval a 28.10.1767 (118), e falecida na vila do Cadaval a 25.3.1799 (119), filha de Alexandre José Barreto do Avelar e de Francisca dos Santos Teodora de São Paio, neta paterna de Francisco do Avelar Barreto e de Rosa Maria da Assunção Henriques (vid. BARRETO, § 1.º, n.o VII), e neta materna de Manuel Garcia de São Paio e de Maria do Santos, todos da vila do Cadaval.  Foram testemunhas o Doutor Manuel Xavier de Basto, morador na Quinta da Junceira, e Francisco Barreto, da vila do Cadaval.

Residentes na vila do Cadaval.

Cândida era descendente de uma família da nobreza do Cadaval, os Barreto de Avelar, antigos Senhores da Quinta medieval do Paço de Tronches, na Vermelha, por esta época já dividida entre vários herdeiros, e antigos Foreiros da Comenda de Na. S.a da Conceição de Rio Maior, da Ordem de S. Bento de Avis, que tinham possuído, desde pelo menos o século XVII, títulos de aforamento de terras, casas e um moinho na Ribeira de Rio Maior.

 

É precisamente neste local que Gregório da Rocha vem estabelecer a sua actividade como moleiro, acompanhado pelo seu irmão António, em data que os documentos não esclarecem. Terá sido na transição entre os séculos XVIII e XIX, quando a morte surpreendeu a sua jovem esposa, deixando-o viúvo e com três filhos de 9, 7 e 3 anos respectivamente, que decidiu fixar-se definitivamente nos moinhos da Ribeira Abaixo.

Casou 2.a vez em Rio Maior, ca. 1800, com Luísa Maria, falecida em Ribeira Abaixo, Rio Maior, a 29.4.1844 (120).

Residentes nos Moinhos dos Figueiredos e no Moinho da Nogueira, Rio Maior.

 

A 27.1.1804, residindo já nos Moinhos dos Figueiredos, e casado em segundas núpcias, celebrou uma escritura de subenfiteuse, em três vidas, de um prazo de aforamento sito no Casal da Castanha, Rio Maior, com José Lopes e Maria Victória, moradores no dito Casal da Castanha, foreiros dos Marqueses de Nisa (121). O contrato incidiu sobre parte do prazo original, constituída por um terreno de mato localizado nas imediações do Moinho do Arneiro, que Gregório da Rocha utilizaria para plantação de cereais destinados a alimentar a produção do seu moinho. Este prazo de aforamento foi herdado pelo filho Salvador José da Rocha e manteve-se na posse da sua descendência até ao final do século XX.

Em 1818 celebrou uma escritura de arrendamento, pelo prazo de nove anos, de um moinho de três mós, terras, oliveiras e demais pertences, sito na Ribeira de Rio Maior, denominado Moinho do Meio (ou Moinho da Nogueira), que era propriedade de Dom Joaquim Bernardo da Silva de Mendonça e Mora, residente em Lisboa, representado pelo procurador João da Maia Rosa. Em 22.10.1827, foi celebrada nova escritura de arrendamento por igual período (122).

É nos Moinhos da Ribeira de Rio Maior que vive e exerce a sua actividade durante um dos períodos mais conturbados da História de Portugal, marcado pelas vicissitudes das Invasões Francesas, entre 1807 e 1810. No caos administrativo que se segue às invasões, e após a Revolução Liberal de 1820, sendo o país cenário permanente de movimentações militares, encontramos notícia de um protesto que Gregório da Rocha apresenta ao Rei D. João VI, por abuso de autoridade de oficiais do Exército.

No dia 11 de Março de 1823, poucos meses antes da Vilafrancada, estando o Regimento de Infantaria n.o 10 do Exército em trânsito entre Santarém e Coimbra, o Comandante deste regimento, Coronel José Benedito de Melo, requisitou três cavalgaduras para transporte de pólvora entre as vilas de Rio Maior e da Batalha, numa distância de cerca de 40 quilómetros, aos proprietários Gregório da Rocha, António da Rocha e José Lopes, que deviam acompanhar o dito Regimento, e ser devidamente ressarcidos pelo transporte, de acordo com as leis em vigor.

Chegados à vila da Batalha, no entanto, e em abuso da requisição de transportes estabelecida, o comandante do Regimento deu ordem de marcha até à cidade de Coimbra e daí para a cidade do Porto, numa viagem de cerca de 250 quilómetros que demorou treze dias. Obrigados a regressar a Rio Maior sem protecção, percorrendo uma distância total de cerca de 500 quilómetros, que lhes tomou vinte dias, em vez dos 80 quilómetros e dois dias inicialmente previstos, expondo-os aos mais variados perigos, os irmãos Rocha e José Lopes apresentaram queixa ao Juíz da vila de Rio Maior, Manuel Teodoro Nunes, que, reconhecendo-lhes razão, fez exposição ao Rei D. João VI, a 28 de Abril, denunciando "as violências que de contínuo experimenta este povo não só nos aquartelamentos, como nos transportes e trânsitos de tropas" (123).

O Paço Real respondeu prontamente, de forma lacónica, a 6 de Maio de 1823, fazendo comunicar ao Juíz que tomaria em consideração o objecto da queixa apresentada "como convém ao bem dos Povos, e à regularidade do Serviço" (124). Nada parece ter resultado deste processo, até porque, como pode verificar-se pela correspondência trocada entre o Coronel José Benedito de Melo, o Ministro da Guerra, Manuel Gonçalves de Miranda (1780-1841) e o Quartel General do Porto, disponível no Arquivo Histórico Militar, existiam ordens superiores para a marcha do Regimento n.o 10 em direcção a Coimbra, e posteriormente, para avançar em marchas forçadas para a cidade do Porto (125).

Uma década depois, com o país envolvido na Guerra Civil entre Liberais e Absolutistas (1832-1834), Gregório da Rocha tomou partido por El Rei D. Miguel. Em 1833, enquanto decorria o Cerco à Cidade do Porto, foi um dos contribuintes do Termo de Santarém para o esforço de guerra Legitimista. Na Gazeta de Lisboa, jornal oficial do Governo de D. Miguel, edição de 22 de Março de 1833, pode ler-se um Aviso no qual é publicada uma relação dos habitantes da vila e do termo de Santarém que “oferecem voluntária e gratuitamente, para o fornecimento do fiel e valoroso Exército de Sua Magestade, os géneros cereais constantes da mesma relação, e Suplicam humildemente a Sua Magestade a Graça de Aceitar-lhes este Donativo, ainda que insignificante, como uma demonstração da decidida fidelidade que consagram ao Mesmo Augusto Senhor, e dos puros desejos que os acompanham de concorrerem com tudo quanto estiver ao seu alcance para sustentação das Tropas Fiéis, que com tanto denodo se empregam na mais justa defesa da Sagrada Causa da Religião, do Trono, e da Independência da Pátria”. No mesmo Aviso se declara que D. Miguel “Houve por bem Aceitar o Donativo que oferecem, considerando-o como uma nova prova dos seus honrados sentimentos de lealdade, e do interesse que tomam pelo bem do Estado” (126).

A relação mencionada no Aviso enumera os donativos de alguns moradores das vilas de Santarém e de Rio Maior, e dos lugares de Trás da Serra, Pé da Serra e Ribeira de Rio Maior. Neste último é registado o donativo de quatro alqueires de cereais por Gregório da Rocha.

Antes da política estava, no entanto, a família. Em 13.8.1828, no Moinho da Nogueira, ao ficar doente numa cama, procurou assegurar que, em caso de morte, a sua esposa ficaria com meios de subsistência, assinando, perante o tabelião Teodoro Botelho Nobre, uma escritura de partilha de todos os seus bens, na qual declarou que “sempre entre ambos tem havido e há boa convivência e harmonia, e muito amor um ao outro” (127). Aquele que sobrevivesse de entre os dois deveria mandar dizer dez missas pela Alma do falecido. Viveriam ambos, no entanto, até a uma idade avançada.

Exerceu a actividade de moleiro até aos seus últimos dias, como demonstra a celebração de uma escritura de arrendamento de um moinho de três mós, terras, oliveiras e demais pertences, na Ribeira de Rio Maior, a 1.5.1841, com a proprietária Dona Ana Isabel Purcel Stich, da cidade de Lisboa, representada pelo procurador José Filipe, genro de Gregório da Rocha, pelo prazo de três anos (128). Tinha então 77 anos de idade, e faleceria três anos depois, deixando larga descendência.

Filho natural:

1 (IV) José

Baptizado na Igreja de N.a S.a da Conceição do Cadaval a 22.1.1785 (129), exposto na roda da vila do Cadaval, que, segundo as testemunhas Manuel Duarte Veloso, Lourenço Duarte, Josefa Teresa e Bernardo Ribeiro, seria filho de Gregório da Rocha e de Paula Teresa, filha de José Antunes e de Bernarda Teresa. Foi padrinho José, filho de Caetano Ribeiro Leal e de Luísa Maria, da vila do Cadaval, e madrinha Maria, filha de Manuel Duarte. Faleceu em Adão Lobo, Cadaval a 11.7.1785 (130), e foi sepultado na Igreja de N.a S.a da Conceição do Cadaval.

Filhos do 1º casamento:

2 (IV) Francisca da Conceição Rocha, que segue.

3 (IV) Salvador José da Rocha, que segue no § 5º.

4 (IV) Francisco

Nasceu na vila do Cadaval, a 10.10.1796 e foi baptizado na Igreja de N.a S.a da Conceição do Cadaval a 18.10.1796. Foram padrinhos António Joaquim de Oliveira e Maria Madalena (131). S.m.n.

Filhos do 2º casamento:

5 (IV) Bernardo da Rocha, que segue no § 6º.

6 (IV) Manuel da Rocha

Nasceu em Ribeira Abaixo, Rio Maior, a 5.6.1806, e foi baptizado em Rio Maior a 20.6.1806 (132). Foi padrinho José Ferreira, casado com Joaquina de S. José, morador no lugar das Boiças. S.m.n.

7 (IV) José da Rocha

Nasceu no Moinho da Nogueira, Ribeira Abaixo, Rio Maior, ca. 1808. Soldado do 2.o Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria n.o 4, 8.a Companhia, destacado para o Rio de Janeiro, Brasil. Alistou-se como voluntário. Assentou praça e fez o juramento de bandeira no dia 16 de Novembro de 1826. Deu baixa ao Hospital três vezes de 26 de Janeiro a 12 de Abril, 5 a 29 de Junho e 5 de Julho a 17 de Agosto de 1827. Foi declarado desertor a 30 de Setembro de 1827, após faltar à revista a partir do dia 22 do dito mês e ano. Foi julgado em Conselho de Guerra presidido pelo Major das Expedições da Legião da Bahia, Pedro Joaquim de Santa Bárbara Pereira de Sousa, no dia 18 de Junho de 1828, acusado de deserção simples e furto. Condenado pelo Supremo Conselho de Justiça ao degredo em Angola (133).

8 (IV) Maria

Faleceu em Anteporta, Rio Maior, a 6.5.1811 (134), e foi sepultada no adro da Igreja Matriz de Rio Maior.

9 (IV) Maria das Dores Rocha, que segue no § 7º.

10 (IV) Catarina do Nascimento

Faleceu em Ribeira Abaixo, Rio Maior, a 15.11.1825 (135), e foi sepultada no adro da Igreja Matriz de Rio Maior.

                                              

 

Notas:

(115) Cadaval, B.1, 1751-1772, ADLSB, fl.79v.

(116) Rio Maior, O.5, 1837-1845, ADSTR, fl.40.

(117) Cadaval, C.1, 1745-1793, ADLSB, fls.77-77v.

(118) Cadaval, B.1, 1751-1772, ADLSB, fl.108-108v.

(119) Cadaval, O.2, 1793-1841, ADLSB, fl.10v.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(120) Rio Maior, O.5, 1837-1845, ADSTR, fl.36.

 

 

 

 

 

 

 

(121) Rio Maior, Cartório Notarial, Livro n.o 8, 1804, ADSTR, fls.3v-4v. Tabelião Teodoro Botelho Nobre. Cota: PT/ADSTR/NOT/01CNRMR/001/0013.

 

 

 

 

(122) Rio Maior, Cartório Notarial, Livro n.o 19, 1827-1828, ADSTR, fls.29-30. Tabelião Teodoro Botelho Nobre. Cota: PT/ADSTR/NOT/01CNRMR/001/0033.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(123) Correspondência de Manuel Teodoro Nunes, juíz de fora da vila de Rio Maior, para Manuel Gonçalves de Miranda sobre a violência de alguns aquartelamentos e transportes aquando da passagem das tropas pela vila de Rio Maior, 28 de Abril a 6 de Maio de 1823. Arquivo Histórico Militar. Cota: PT/AHM/DIV/1/17/26/29.

 

(124) Idem, ibidem.

 

 

(125) Correspondência de José Benedito de Melo para Manuel Gonçalves de Miranda sobre deslocamentos, ordem pública e vencimentos, 3 a 20 de Março de 1823. Arquivo Histórico Militar. Cota: PT/AHM/DIV/1/17/27/57.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(126) Gazeta de Lisboa, n.o 70. Lisboa, 22 de Março de 1833, pág.s 369-370.

 

(127) Rio Maior, Cartório Notarial, Livro n.o 26, 1828, ADSTR, fls.37-37v. Tabelião Teodoro Botelho Nobre. Cota: PT/ADSTR/NOT/01CNRMR/001/0034.

(128) Rio Maior, Cartório Notarial, Livro n.o 36, 1841, ADSTR, fls.41-41v. Tabelião João Pereira Gaudêncio. Cota: PT/ADSTR/NOT/01CNRMR/001/0053.

(129) Cadaval, B.2, 1772-1793, ADLSB, fls.77v-78.

(130) Cadaval, O.1, 1737-1793, ADLSB, fl.104.

(131) Cadaval, B.2, 1772-1793, ADLSB, fl.138v.

          Cadaval, B.3, 1793-1823, ADLSB, fl.17.

(132) Rio Maior, B.7, 1822-1826, ADSTR, fls.64-64v.

(133) Livro de Registo do Regimento de Infantaria n.o 4, 2.o Batalhão Expedicionário Destacado para o Rio de Janeiro. Arquivo Histórico Militar, fls. 794-797; 904-905. Cota: PT/AHM/G/LM/B-04/13/1679.

(134) Rio Maior, O.3, 1810-1824, ADSTR, fl.24.

(135) Rio Maior, O.4, 1824-1837, ADSTR, fl.12v.

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