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[Arquivo do Riomaiorense) Vultos de Ontem (4)

 

 

 

VII - Ramiro Henriques de Carvalho (1888-1931)

In O Riomaiorense (3.a Série), n.o  . Rio Maior, 1950.

Filho de Justino Henriques de Carvalho, nasceu em Rio Maior, no dia 29 de Maio de 1888.

Logo de pequenino se dedicou à música, tendo aprendido a instâncias de sua mãe, e aos oito anos apresentou-se como componente da Música Nova, uma das três bandas locais existentes, a executar o reportório dela em flautim, com agrado geral e grande surpresa e alegria do pai, que lhe não conhecia tal habilidade.

 

Finda a instrução primária levaram-no para Lisboa, para a casa de uns parentes, ingressando numa escola secundaria, onde teve como condiscípulo o Sr. António Ferro, actual ministro de Portugal na Suíça.

 

Completados os estudos, foi colocado na Agência, em Portugal, da Fábrica Schering, alemã, onde conquistou lugar de merecido destaque, firma por conta da qual visitou a Espanha, França e Alemanha.

 

Foi durante toda a sua vida um grande amador de música, e relacionado com categorizados músicos e cantores, tanto nacionais como estrangeiros, chegou a trazer a Rio Maior, há vinte anos, uma Orquestra, em que eram executantes vários professores do Conservatório, e que, num memorável espectáculo, já referenciado pel’ ”O Riomaiorense”, no seu último número, foi regida por seu filho Fernando de Carvalho, então novel e brilhante aluno do Conservatório, e hoje um dos maiores expoentes nacionais da música ligeira, tanto na regência, como na composição.

 

Foi Ramiro de Carvalho, ainda, activo participante em torneios de tiro aos pratos e grande entusiasta do desporto da caça -  a caça, por virtude da qual viria a falecer, em 12 de Novembro de 1931; foi na Ericeira, a arma disparou-se, sendo atingido mortalmente pelos projécteis.

VIII - Francisco Ferreira Campos (1856-1942)

In O Riomaiorense (3.a Série), n.o . Rio Maior, 1950.

 

 

O Eng. Francisco Augusto Ferreira Campos, filho de Eduardo Ferreira Campos e de D. Angélica Rosa Ferreira Campos, nasceu na Quinta do Carvalhal de Baixo, da freguesia de Azambujeira, no dia 26 de Maio de 1856, e foi baptizado, solenemente, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da mesma freguesia, no dia 24 de Julho do citado ano, apadrinhado por seu tio, o Dr. Joaquim José Ferreira Campos, médico da Casa Real que acompanhou D. João VI ao Rio de Janeiro quando das invasões francesas e mais tarde Físico-Mor do Reino de Angola e Cavaleiro da Ordem de Cristo.

Aos oito anos de idade deixou a sua terra natal e partiu para Lisboa, confiado por seus pais as cuidados de seu tio, o Doutor João Ferreira Campos, Marechal de Campo e lente da Academia Real de Marinha e da Real Escola Politécnica.

 

A sua compleição fraca convencera seus pais que não poderia ir longe em seus estudos, mas a sua robusta inteligência aliada a uma inquebrantável força de vontade desmentiram tal convicção, porquanto, muito novo ainda, se evidenciou como estudante distinto e aplicado.

 

Aluno laureado do então melhor colégio de Lisboa, a “Escola Francesa”, de Pedaing d’Oggen, onde os rigores dos Mestres não consentiam tal honra a quem a não merecesse, seguiu as suas carreiras conseguindo sempre distinguir-se por forma brilhante.

 

Numa carta a um seu familiar, escrita em Março de 1936, afirmava ele: “A minha vida tem andado sempre errada. Na minha mocidade, quando cheguei ao fim daquela maçada dos Liceus, meu tio, estimável e simpático velho a quem devo esse pouco que sei (isto sem modéstia) propôs-me Coimbra aonde tinha amigos íntimos – Visconde de Monte São, o Visconde de Vila Maior – esses Doutores a valer, Reitores de Universidade, ou para Direito ou para Medicina. Respondi-lhe que o que eu desejava era seguir o Curso Superior de Letras. Consultado meu pai e teu avô a esse respeito, parece que respondeu que as letras não davam pão a ninguém. Segui então os Cursos de Engenharia de Máquinas da Armada e o de Engenheiro de Obras Públicas e Minas, isto pela mania das viagens que sempre me acometeu. E fazendo muitas viagens, de que trago saudosas recordações, a saudade não se compadeceu com o cheiro do carbone e outro remédio não houve que terminar a carreira encetada. Fiz então concurso para a Capitania de Lisboa. As provas que prestei, e que difíceis elas eram para quem não conhecesse profundamente as línguas portuguesa, francesa e inglesa, impressionaram de tal forma o júri que fui classificado em primeiro lugar entre quarenta concorrentes.

 

Não cheguei a tomar posse do lugar. Um caso meramente sentimental levou-me a deixar a velha Lisboa do Passeio Público e de S. Carlos, a tertúlia de escritores notáveis e de artistas requintados da segunda metade do século passado com quem convivi intimamente, e refugiar-me neste recanto formoso e bucólico do Carvalhal onde espero acabar os meus dias”.

 

Na verdade, naquele tempo conviveu e manteve relações de amizade com escritores consagrados, com homens de ciência e artistas de renome internacional, entre os quais de Saint-Saens.

 

Escritor de merecimento, revelou-se também um poeta de elevada sensibilidade, sendo ainda notável poliglota e conhecedor profundo das ciências geológicas e paleontológicas. A sua vasta obra anda dispersa por muitos jornais e revistas nacionais e estrangeiras que tiveram nele colaborador ilustre e dedicado.

 

Paul Choffat e Ernest Fleury consagravam-lhe viva amizade e sentida admiração. Assente por geólogos eminentes que o mar terciário não passara de Azambuja, deve-se a Ferreira Campos, depois da sua interessante e valiosa comunicação, o conhecimento do miocénico Marinho de Azambujeira, que veio alterar bastante o que estava estabelecido até então.

 

Acompanhou com notável acerto e dedicação a exploração dos jazigos de fósseis por si descobertos na sua Quinta do Carvalhal Novo, jazigos que sem a sua sábia interferência se teriam perdido.

 

Jornais nacionais e estrangeiros consagraram colunas inteiras à sua descoberta, em 1919. Roedores, cervolídeos, rinocerídeos e elefantídeos foram por ele encontrados. Dentes de “hipparion” de que descende o actual cavalo, de renas, de castores, ossos e maxilares de gigantescos mastodontes (o último do maxilar superior deste paquiderme era do tamanho de uma cabeça humana e, no dizer do ilustre paleontólogo Ernest Fleury, um dos maiores e o mais perfeito dos descobertos em Portugal e no estrangeiro) e vários fragmentos de vertebrados se descobriram, graças aos seus cuidados. No estudo da sua autoria, inserto no Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, de 1936, estudo que mereceu a honra de ser transcrito em revistas estrangeiras da especialidade, intitulado “Alguns dados paleontológicos dos terrenos dos bairros de Santarém e do concelho de Rio Maior”, apresenta Ferreira Campos uma interessante e curiosa explicação sobre as causas do tremendo cataclismo que mudou toda a face da terra e pormenoriza as suas descobertas paleontológicas.

 

Percorreu a maioria dos grandes centros da Europa e do Extremo Oriente, por ele descritos em páginas brilhantes.

 

O povo da região onde nasceu e veio a falecer apelidava-o, nos seus simples mas sentenciosos conceitos, de “sábio” e de “santo”, vincando, assim, a sua personalidade de erudito e virtuoso.

 

Possuidor de um coração diamantino e verdadeira alma de apóstolo, a sua modéstia era tão grande como o seu coração.

 

Foi na sua querida Azambujeira, “antiga vila de príncipes onde o artista e sábio Francisco Ferreira Campos viveu uma vida de sonho” (Dr. Veríssimo Serrão, em “Voz do Ribatejo”) que aos 85 anos de idade, no dia 1 de Março de 1942, se finou o cientista e escritor ilustre que sempre afirmou que se não continuassem sepultadas, no subsolo, as riquezas que existem no concelho de Rio Maior, elas, por si só, dele fariam o concelho mais rico de Portugal.

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Figura 7 - Ramiro Henriques de Carvalho (1888-1931). © Arquivo do jornal O Riomaiorense.

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Figura 8 - Francisco Ferreira Campos (1856-1942). © Arquivo do jornal O Riomaiorense.

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