Armando Delgado Marques, Padre (1928-1999)
Por Maria Júlia Faria e Silva Antunes Figueiredo
Membro do Conselho Consultivo da EICEL1920
Nascido a 24 de Dezembro do ano de 1928, na Ribafria, freguesia da Benedita, Armando Delgado Marques, herdeiro de uma família profundamente religiosa e com tradição sacerdotal, cedo seguiu essa inspiração.
Aos nove anos de idade, falecido o pai, foi internado nas Oficinas de São José em Lisboa, admitido no Seminário Patriarcal de Santarém a 5 de Janeiro de 1942 onde permaneceu até 1944, transitando depois para Almada e Olivais e foi ordenado em Lisboa no dia 29 de Junho de 1953 pelo Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
Iniciou nesse ano o seu ministério na paróquia de A-dos-Negros e, em 1 de Janeiro de 1960, foi nomeado pároco de Rio Maior, onde já se encontrava desde Outubro do ano 1959 como coadjutor do Pe. António Pereira Quartilho, quando foi chamado a Lisboa pelo Cardeal Cerejeira “sobretudo para construir a sua Igreja Nova”, exercendo também, por períodos, o seu ministério em Fráguas, Arruda dos Pisões, Outeiro da Cortiçada, Arrouquelas e Alcobertas.
Em 1981 foi nomeado pároco do Entroncamento e, em 1994, ainda nomeado Administrador Paroquial de Vila Nova da Barquinha, Moita do Norte e Atalaia.
Em Rio Maior, o padre Armando pôs a ombros a pesada tarefa para que fora incumbido:
Além da necessidade de novo templo para albergar os fiéis e os demais a conquistar, por instalado forte anti-clericalismo apoiado por grupos de militância maçónica especialmente, Rio Maior, de facto, não tinha Igreja Paroquial própria; os ofícios religiosos aconteciam na Igreja da Misericórdia, a ser conhecida por Igreja Velha.
Assim chegou o Padre Armando Delgado Marques à paróquia de Rio Maior que, apesar de comunidade dividida e algo descristianizada, soube, com dignidade, esperá-lo na Senhora da Luz e conduzi-lo, em cortejo automóvel, à Igreja da Misericórdia.
A sua inteligência e criatividade logo operaram energias para o propósito da sua missão: se o intento era a Nova Igreja, enquanto templo, também a transformação das mentalidades haviam de merecer-lhe atenção para uma nova comunidade, rodeando-se dos fiéis resistentes.
Irrequieto, mas cauteloso, determinado, mas atento, às vezes impulsivo, mas generoso geriu dinâmicas para levar a bom termo a cruzada já tardia pela demora e para a qual faltava dinheiro. A fé e o espírito combativo do Pe. Armando foram bastante para as incertezas e dificuldades surgidas, mas nunca o abalaram nem aos que partilharam o muito trabalho para o crescimento dos valores cristãos e do sonho de há muito.
Finalmente a Igreja foi inaugurada em 26 de Maio de 1968, segundo projecto do arquitecto Formosinho Sanchez, apesar das polémicas, quase embargo, por “inestético”. (livro de actas da Câmara Municipal nº 29, fls 162 vs, em 22 de Abril, 1965)
Este homem da Igreja, foi homem de rua, onde as pessoas andavam e o que frequentavam, quer fosse café ou taberna. Jogava xadrez e cartas, organizou jogos de futebol entre casados e solteiros, entre gordos e magros, levou jovens ao cinema a Lisboa; sempre apressado na sua batina preta corria as ruas e lugares atendendo ao compromisso e à conquista de mais fiéis.
Integrado na comunidade, dela fez parte ligado ao jornalismo, associando-se à tipografia onde se publicava O Riomaiorense que, em 1963, mudou o título para Jornal do Oeste.
Também participou activamente na vida cívica riomaiorense, nomeadamente como colaborador do programa ilustrado do “Album da Feira de Rio Maior, 1971”.
Foi professor de Religião e Moral na Escola Preparatória Latino Coelho. Fundou e ensaiou os ranchos folclóricos do Arco da Memória e Senhora da Luz, promoveu leilões nas festas dos lugares do concelho, organizou campanhas do tijolo e da telha, do ferro velho, dos ovos, do ouro, dos mealheiros nos estabelecimentos comerciais e oficinas para os patrões e empregados, tudo a favor da Igreja Nova, realizou gincanas, cortejos de oferendas e vendas de produtos.
Foi impulsionador do então designado Lar dos Velhinhos, colaborou na criação do Jardim Infantil O Ninho da Santa Casa da Misericórdia.
A sua acção pastoral aprofundou e revitalizou os movimentos católicos LIAM, Conferência de São Vicente de Paulo, Acção Católica Rural e Operária e fundou em Rio Maior o Curso de Cristandade “ De Colores “.
Foram anos de luta de um homem versátil, amado por muitos e indiferente a outros. O Padre Armando venceu dedicadamente a causa da Igreja Nova em Rio Maior, a qual abriu nova e diferente esquadria da então vila.
Nesse ano de 1981 partiu seguido de grande e calorosa caravana automóvel que se despedia daquele que, antes ainda jovem, ía então cansado.
E assim escreveu:
“ Doei ao serviço da paróquia, os melhores anos da minha vida, todo o meu entusiasmo, a minha saúde…”
“ A todos os paroquianos e a todo o Rio Maior, um grande abraço e uma saudade que nunca passará. ”
Morreu em 20 de Setembro de 1999 no hospital de Torres Novas.
Maria Júlia Figueiredo
(escreve de acordo com a antiga ortografia)