Bombeiros Voluntários de Rio Maior
Por Isilda Soveral
Tarde linda de Outono!
Sentada num banco do jardim, deliciava-me com a correria das crianças e com o sol filtrado pelas folhas das árvores já amareladas!
De repente, um grito no ar, estridente, implacável, presságio de desgraça, pedido aflito de socorro… estava a tocar a sirene dos Bombeiros…!
Senti na alma e no corpo o impacto do momento que me fez lembrar aquele maldito dia em que, louca, ajoelhei na estrada onde estava a minha filha de oito anos, atropelada por um camião. Já lá estavam os Bombeiros, que, solícitos, prestavam os primeiros socorros e me animaram com palavras de esperança…. Na ambulância, fiz uma promessa: oferecer-me para trabalhar com aqueles homens tão especiais… foi a melhor maneira de agradecer a vida que eles salvaram…
Afastei as memórias do passado, levantei-me do banco de jardim e fui ver… Na avenida, em frente, a apitar apressados, seguiam a ambulância e o pronto-socorro.
– Que teria acontecido? Quem seria que estava em perigo?
Rezei e pedi ajuda a Deus e louvei a agradecer o trabalho e a generosidade de quem ia em seu auxílio…
Todos os dias, a qualquer hora, eles estão disponíveis e prontos para a sua missão extraordinária – “dar vida à vida”–, vencendo o fogo, acorrendo nos acidentes e nas catástrofes, transportando doentes, grávidas… e em tantas outras circunstâncias de sofrimento!
São estes os homens que hoje continuam a testemunhar e a lutar pelos valores dos seus antepassados – há 127 anos!
Como nasceu esta instituição, a mais velha em exercício no concelho?
Vamos lembrar para que a memória não se perca, tocando só nos factos mais significativos que provam os esforços, as lutas e as capacidades e, sobretudo, o grande amor à terra e à causa que tantos, tanto quiseram promover e dignificar!
Não falarei deles, não nomearei nenhum. Estão identificados em documentos, em actas, em ocasiões especiais, mas não cabem neste trabalho resumido. Foram objecto de pesquisa e devidamente relacionados nos documentos que eu e o Dr. Eduardo Casimiro (ainda Presidente da Assembleia Geral) elaborámos e fazem parte do espólio da Associação, em arquivo próprio.
Vamos ter o gosto de acompanhar os passos deste caminho que nos enche de admiração e de gratidão!
Em 26 de Setembro de 1892, em reunião de Assembleia Geral da Sociedade Progresso Filarmónico, foi oferecida, pela Casa Henriques & Irmão, por intermédio do sócio protector Fortunato Alves Salgado, uma bomba braçal contra incêndios. Ficaram encarregados de trabalhar com ela 30 sócios dessa Sociedade que passou a chamar-se Sociedade Filarmónica Riomaiorense e os executantes da banda eram bombeiros acidentais. Em 1898 acrescentou-se o nome dos Bombeiros Voluntários.
É difícil imaginar, há cento e tal anos, a coragem e a abnegação dos que conseguiram organizar a corporação que nem sequer tinha sede própria e se reunia nas instalações possíveis de vários edifícios disponíveis: sala do hospício dos frades, casa na Rua do Açougue e na Rua David Manuel da Fonseca… Mesmo assim, todas eram apertadas para os ensaios da música, bailes, arrumações, reuniões e outras actividades que iam surgindo. Nesta altura, a Filarmónica que lhes dera vida tornou-se a Banda Marcial dos Bombeiros Voluntários, mas separada da Associação.
Para resolver a questão do espaço foi feita uma petição à Ilustríssima e Excelentíssima Junta da Paróquia da Freguesia, no dia 26 de Junho de 1899, invocando a necessidade de arrecadar o material de socorro e construir a respectiva sede, sugerindo o sítio do Alto da Capela, pertencente à mesma Junta. Foi a petição aprovada pelo Governador Civil de Santarém. Começaram as obras imediatamente e com tanta vontade e entusiasmo e a ajuda de grande número de sócios fundadores e amigos foi possível inaugurar o edifício ainda em 1901 (figura 1). Sem receber qualquer contributo oficial, nasceu a primeira sede de raiz da Associação!
O Quartel velho, ainda hoje, é marco que atesta e lembra os homens e os feitos da Associação de então que foi considerada uma das mais bem instaladas do país.
Em 1904 já há acta da reunião da Assembleia Geral da Associação, que nomeia os corpos gerentes eleitos para o ano seguinte, mas, como outras instituições da altura, sofreu uma crise de organização e pessoal e foi-se depauperando e quase deixou de existir.
Em 16 de Agosto de 1929, houve um movimento de riomaiorenses que se prestaram à recuperação e renascimento da Associação e, em 1932, a Direcção reorganizou a banda de música, que tocou em público pelo Natal de 1933, no largo da Vila, com muito êxito.
Nessa onda de restauração envolveram-se os Bombeiros que, no mesmo ano, participaram num concurso de Bombeiros, em Santarém, e obtiveram a taça “Governador Civil”.
Claro que o regulamento interno de 1928 e a formação, em 1929, do Corpo de Salvação Pública, regidos pelos estatutos entretanto aprovados, muito contribuíram para esta benéfica mudança!
Em 1931 procedeu-se a um restauro das instalações com aumento de espaços para convívio, arrumações, ensaios das bandas e outros afins.
A Associação ia assumindo novas práticas de gestão para corresponder a uma nova dinâmica e qualidade dos serviços prestados e ao alargamento de actividades. E para melhor resultado da gestão da Associação, apresentou ela em 31/01/1940 o Regulamento Geral para serviços do Corpo Activo, quadros honorários e auxiliar, serviços de saúde e Banda de Música.
Além do decorrer normal de carácter interno, o Corpo de Bombeiros era, muitas vezes, convidado para participar e abrilhantar festas e actuações em cerimónias e outros actos públicos: aniversário do Concelho, festas das Marinhas do Sal, presenças em comemorações dentro e fora do Concelho, procissões, visitas de individualidades, cortejos de oferendas para a Santa Casa da Misericórdia, concertos ao ar livre… era uma Associação muito considerada e muito participativa.
Em 1945 esteve no Congresso dos Bombeiros em Coimbra.
Em 1948 instituiu-se a Caixa de Previdência da Banda de Música e a Caixa de Previdência do Corpo de Bombeiros, completamente autónomas.
"Todos os dias, a qualquer hora, eles estão disponíveis e prontos para a sua missão extraordinária – “dar vida à vida”–, vencendo o fogo, acorrendo nos acidentes e nas catástrofes, transportando doentes, grávidas… e em tantas outras circunstâncias de sofrimento!"