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Evocação do Dr. Fernando Sequeira Aguiar

 

 

 

 

 

Na década de 60 do século XX o jornal diário “República”, que havia sido fundado pelo grande tribuno que foi o Dr. António José de Almeida (único presidente da 1ª república a exercer o mandato por completo), jornal de orientação contrária ao regime do Estado Novo e que por isso sofria represálias, promoveu junto dos seus leitores uma subscrição com vista à aquisição de uma rotativa, equipamento moderno, muito dispendioso destinado à impressão do jornal, na altura orçava em cerca de dois mil contos, mas o objectivo foi alcançado. O Dr. Sequeira Aguiar também quis contribuir para tão nobre causa.  Mas, à cautela, não deu a conhecer a sua identificação e na lista de dadores, que o jornal publicava diariamente, vinha o seu nome próprio e as iniciais dos apelidos SA, uma forma  de com argúcia não ficar sujeito a retaliações.

Recordo um facto já muito distante, mas que revela bem a sensibilidade do Dr. Sequeira Aguiar. Tem a ver com o tempo em que sua filha Manuela frequentava a escola primária em Rio Maior e, no dia do seu aniversário quis que fosse melhorada a ementa dos alunos da cantina escolar que apoiava os alunos mais necessitados. Lembro ainda o agradecimento prestado ao Dr. Aguiar pelos professores da vila, isto devido à circunstância de os meus pais serem ambos professores em Rio Maior.

No plano cívico, relembro a participação muito activa do Dr. Sequeira Aguiar, em Maio e Junho de 1958, na candidatura à presidência da República do General Humberto Delgado, que aqui ganhou o acto eleitoral. Foram momentos de grande agitação neste país.

Ainda no plano cívico, o Dr. Aguiar desempenhou durante vários anos e a partir de 1 de Julho de 1966, o cargo de presidente do núcleo de Rio Maior da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, que mais tarde haveria de ser convertida em Liga dos Combatentes.

Em 1 de Agosto de 1985 surgiu nas bancas, em Rio Maior, o nº 1 da II Série do quinzenário regionalista, o “Notícias do Concelho de Rio Maior”, de que era director e proprietário o Dr. Fernando Sequeira Aguiar, mais uma faceta deste cidadão ilustre de Rio Maior que estamos a recordar. E, de um seu Editorial desse jornal, registo uma breve passagem: “ Não temos a veleidade de fazer obra perfeita e por isso aceitamos o concurso de todos os riomaiorenses e a colaboração dos nossos sinceros amigos... com o desejo unânime de um RIO MAIOR “somente” MELHOR”.

Recordo neste momento um outro episódio passado com o Dr. Aguiar: resolvidas as questões que íamos tratar naquele dia quis dar-me conhecimento de que era aluno da Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa e, levando a mão ao bolso do casaco, retirou e exibiu-me o respectivo cartão de aluno emitido pela direcção da Associação Académica. Era aluno voluntário, como se designava na altura e, em agradecimento ao contínuo que lhe ia de vez em quando prestando as necessárias informações, na quadra da Páscoa foi-lhe oferecer uma perna de borrego. O referido contínuo, só mais tarde, em contacto com um jovem estudante oriundo de Rio Maior, soube que o “Sr. Fernando” a quem prestava as informações académicas, era médico na vila de Rio Maior, dado que ele nunca se tinha identificado como tal.

Ainda em sua vida, o Município de Rio Maior decidiu muito justamente homenageá-lo, atribuindo o seu nome a uma das ruas da cidade, aquela em que se situa a biblioteca municipal. Aí, recordo-me do Dr. Aguiar, na sua intervenção após o descerramento da placa toponímica, ter feito um elogio à sua professora da instrução primária. Sem os ensinamentos fundamentais que ela lhe transmitiu ele não teria chegado ao patamar a que chegou. Creio que o Município de Rio Maior lhe prestou essa homenagem, não só ao médico que durante décadas esteve ao serviço da comunidade riomaiorense, mas também ao autarca que serviu com dedicação a causa pública como membro do importante órgão que é a Assembleia Municipal, em representação do partido socialista, desde as primeiras eleições autárquicas após o advento do 25 de Abril até ao seu desaparecimento físico.

 

Manifestou o desejo, que foi cumprido, de ter como mortalha a bata de médico e o seu velório aconteceu no núcleo de Rio Maior da Liga dos Combatentes, tendo o funeral civil, porque não era crente, funeral que transitou pela Rua David Manuel da Fonseca, onde se deteve por momentos, como era também seu desejo, em frente ao espaço onde foi o seu consultório.

 

 

Rui Andrade

(escreve de acordo com a antiga ortografia)

 

Figura 2 - AGUIAR, Fernando - Por Rio Maior I. Questões do Momento... E do Futuro. Rio Maior: Edição do Autor, 1958.

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