[Reportagem de Arquivo) A Visita do Ministro da Economia (3)
Senhor Ministro, no desejo de encurtar este arrazoado, sacrificando, certamente, a clareza da exposição, vamos em rápido resumo apontar ainda as concebidas soluções, algumas delas de viável realização, mas todas afinal frustradas.
É sabido que a lignite “tout-venant”, não tem, em época normal de abastecimento de combustíveis, fácil colocação no mercado.
Por isso, terminada a guerra, causa base de perturbação do abastecimento mundial de combustíveis, e que, no nosso país, levou às cautelosas providencias do Governo, quanto à preparação deste jazigo, havia que assentar numa solução definitiva, que garantisse o futuro da nossa mina.
Neste pensamento, primeiramente assentou-se em que se montasse uma central produtora térmica considerada de utilidade pública (Lei 2002) à boca da mina, no que obtivemos o incondicional apoio do Governo.
Porém, em Novembro de 1947 entendeu o Governo que a utilização da lignite se não devia fazer pela queima nessa central térmica mas sim na produção de hidrogénio por via química para a produção de adubos azotados sintéticos.
Não tendo sido possível, por enquanto, levar avante tão grandioso projecto, em Março de 1948, o senhor Ministro da Economia Doutor Castro Fernandes, a nosso pedido autorizou que instalasse uma central térmica de produção de energia eléctrica, de 3000 kilowatts.
Mas a actual política de energia hidro prejudicou essa solução, e, então, em Janeiro último pensamos em montar uma fábrica de briquetes, porque, além das possibilidades do seu bom êxito, novamente se abrira a alarmante crise na produção, distribuição e consumo dos combustíveis, cuja penúria ameaçava e ameaça agravar-se na Europa e na América.
Eis o problema que se põe e está em apreciação.
Acaba Vossa Excelência de percorrer o local em que procuramos levantar este empreendimento e de analisar as plantas e os definitivos projectos que, cuidadosamente, foram estudados em Portugal e na Alemanha, por engenheiros portugueses e alemães, e que a casa Buckau R. Wolf, escolhida para fornecimento das máquinas, nos enviou.
As máquinas estão a ser fabricadas, e tudo indica que, dentro de dez meses, a fábrica de briquetes estará em condições, como está projectado, de produzir diariamente 100 toneladas de briquetes, e 100 toneladas de lignite seca, com 22% de humidade.
Concluímos, senhor Ministro, como já fizemos noutro lugar:
Com a instalação da fábrica de briquetes:
- Produz-se um combustível aceitável no mercado como sucede no estrangeiro.
- Na Alemanha no ano de 1950, produziram-se destes briquetes, setenta e oito milhões de toneladas, (Boletim da O.E.C.E.) e na Inglaterra (país de carvão rico) um milhão e cem mil toneladas, não estando ainda em laboração todas as 30 fábricas adquiridas pela National Coal Board aos particulares. (Jornal The Economist, de 29 de Setembro de 1951).
- Resolve-se definitiva e eficazmente o problema da nossa lavra mineira que tem sido considerada de interesse nacional.
- Consegue-se consumir a lignite armazenada nos nossos parques de Rio Maior, lotando-a com a extracção a fazer, pela sua aplicação no fabrico dos próprios briquetes.
Senhor Ministro, ao deixar Vossa Excelência as nossas minas, fica-nos a fundada esperança que, de conformidade com a orientação apresentada, irá dar uma rápida solução à nossa situação mineira, que Vossa Excelência tem à sua vista, e exposta, pormenorizada e justificada técnica e economicamente no pedido que tivemos a honra de submeter à douta consideração de Vossa Excelência.
Finalmente devemos manifestar ao Governo, na ilustre pessoa de Vossa Excelência, a gratidão, de que se tornou credor, pelo auxílio que tem prestado à nossa mina.
Bebemos pela saúde de Vossa Excelência e prosperidades no alto e espinhoso cargo de governação que lhe está confiado.
Seguidamente, usou da palavra o Senhor Ministro da Economia (figura 7), que agradeceu o fidalgo e gentilíssimo acolhimento que lhe foi feito, afirmando que se congratulava por poder averiguar pessoalmente do valor económico desta parcela de território, e dizendo-se satisfeito com as informações que aqui lhe foram prestadas pelo Sr. Director Geral de Minas, sobre a enorme reserva mineira deste jazigo, muito superior às previsões antes formuladas, louvando por isso os serviços de minas, que lhe deram os motivos de fé que aqui veio colher.
Quanto à urgência da solução a adoptar pela Empresa na montagem da fábrica de briquetes, embora um problema de tamanha transcendência não possa ser resolvido sem grande ponderação, afirmou Sua Ex.a que ele será estudado com todo o interesse.
Aludiu, por fim, à possibilidade da utilização das lignites para produção de adubos azotados, problema do progresso interno, que é necessário desenvolver, para a obra do fomento agrário, de tão grande vantagem para a economia do país.
Ao terminar, Sua Excelência brindou pelo progresso da Empresa e dos seus dirigentes, retirando em seguida para a capital.
Ao terminarmos esta descrição resultante dos melhoramentos que estão em curso nas Minas do Espadanal, felicitamos vivamente os dirigentes da EICEL.
Felicitamo-los pelos esforços, por vezes inglórios mas consecutivos e tenazes, que têm envidado há uns anos a esta parte, no sentido de conseguirem nas minas uma estável e alta laboração, com numeroso operariado. Porque tais esforços, visando, é certo, o bem económico da Empresa, indirectamente procuram o bem da nossa terra. Dizemo-lo reconhecidos: Se através da rádio e da grande imprensa, o nome de Rio Maior tem, nestes últimos anos, chegado a todos os cantos de Portugal, às Minas de Lenhite o devemos. O progresso da vila, nos aspectos comercial como industrial, urbano como turístico, depende em grande parte do progresso da Empresa do Espadanal. Por isso, amantes da ascendência do nosso burgo, inclinamo-nos reverentes para a EICEL, com as nossas reiteradas saudações e este rogo veemente: que, concluída a Fábrica de Briquetes e em plena laboração, isso apenas seja motivo para, com mais alma, com mais fé, lutar pela construção, na nossa terra, da já famosa Fábrica de Adubos Azotados.