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Armando dos Santos Gomes Pulquério (1917-1983) (2)

 

 

                                     

 

Armando Pulquério assume sem hesitações o apoio ao regime político vigente, o Estado Novo, declarando logo na primeira página: “Se o Riomaiorense tivesse voto, votaria sem pestanejar, cumprindo honradamente o seu dever cívico, num grande agradecimento a Salazar, no português ilustre, no homem almejado e a todos os títulos digno, que é o senhor Marechal Óscar Carmona” (7). Decorria então a campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 1949.

 

O apoio ao regime era fruto da admiração pelas obras realizadas desde 1926. Rio Maior fizera a sua entrada no século XX neste período de duas décadas, com a electrificação e o abastecimento de água à vila, a renovação da rede viária, a construção de novos equipamentos como o Hospital da Misericórdia, o matadouro municipal, a Casa do Povo, as novas escolas primárias e, sobretudo, o investimento governamental na exploração da Mina do Espadanal durante a Segunda Guerra Mundial, com a construção do ramal ferroviário mineiro.

Armando Pulquério considerava “a Nação enriquecida, prestigiada como no tempo das Descobertas, graças ao talento providencial do regime” (8). Várias outras obras de significado serão erguidas nas duas décadas seguintes: a Estrada Nacional n.o 1, passando por Rio Maior, a construção da rede de saneamento básico na sede do concelho, o início da electrificação e do abastecimento de água às povoações rurais do concelho, o novo Palácio da Justiça, a nova Igreja. O Riomaiorense tomará parte no debate que cada uma destas obras suscitará.

O apoio ao Estado Novo, assumido de forma inequívoca no primeiro número da terceira série de o Riomaiorense, não era, contudo, acrítico, e evoluiu para um sentimento de desilusão nos anos finais do regime. Durante duas décadas, Armando Pulquério não hesitou sempre que se tornou necessária a crítica veemente da actuação da Câmara Municipal de Rio Maior e da Administração Central, quando estas se mostraram lesivas dos interesses de Rio Maior e dos riomaiorenses.

 

As páginas do Riomaiorense testemunharam, nos anos cinquenta, duras polémicas entre Armando Pulquério e o Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, João Afonso Calado da Maia, e foram tribuna para os artigos do médico Fernando Sequeira Aguiar, publicados entre 30 de Novembro de 1956 e 30 de Novembro de 1957, em oposição à política urbanística da Câmara Municipal, nomeadamente quanto à escolha do local para a construção da nova Igreja (9).

 

Foram diversas as campanhas do Riomaiorense em defesa dos interesses locais. Destacam-se a defesa da extensão do ramal ferroviário mineiro até Peniche e a sua abertura ao transporte de passageiros e mercadorias, que não teve acolhimento junto do Governo, a exposição das condições de trabalho dos operários da Mina do Espadanal, particularmente a denúncia, na fase final da exploração mineira, da “situação deplorável” em que se encontravam dezanove funcionários com vários meses de salários em atraso, e que teve eco na imprensa nacional.

 

Armando Pulquério soube rodear-se de importantes colaboradores, entre os quais se destacaram Alexandre Laureano Santos, com artigos de opinião, Amílcar Barbosa, com as suas “Cartas de Angola”, Armando da Conceição Carneiro, Fernando Casimiro Pereira da Silva, com a secção “Arquivo Histórico” e artigos de opinião, Fernando Duarte, com uma secção dedicada ao cinema, Fernando Sequeira Aguiar, com artigos dedicados ao planeamento urbano da vila, Heitor Couto, Júlio Carreira Pereira de Almeida, com uma secção de “Cultura Popular”, Marcolino Nobre, João Machado Cruz ou Manuel Novais Granada.

Figura 2 - Terceira Série do jornal O Riomaiorense (1949-1965). Arquivo Digital.

(7)

PULQUÉRIO, Armando – “Definindo atitudes”. In O Riomaiorense (3.a Série), n.o 1. Rio Maior, 10 de Fevereiro de 1949, pág. 1.

(8)

PULQUÉRIO, Armando – “Editorial”. In O Riomaiorense (3.a Série), n.o 1. Rio Maior, 10 de Fevereiro de 1949, pág. 1.

(9)

AGUIAR, Fernando – Por Rio Maior I. Rio Maior: Edição do Autor, 1958.

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