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O Riomaiorense e a Primeira Guerra Mundial

Naulila . Um episódio da 1.a Grande Guerra (2)

                                                    

 

 

                                        

                                           

 

 

E em Portugal, como se encarava este abuso alemão face às nossas colónias?

 

O Riomaiorense elucida-nos.       

​Na sua edição de 2 de janeiro de 1915, com o título «Portugal e a Alemanha / O revis de África» pode ler-se: “O governo forneceu há dias uma nota oficiosa à imprensa, dando a triste notícia de que os alemães haviam assaltado, de surpresa, o forte de Naulila, situado na fronteira de Angola, derrotando as tropas que o defendiam […]

[…] tropas alemãs, invadiram, sem prévia declaração de guerra, o nosso território de Angola, e deram batalha – batalha desigualíssima pelo número dos combatentes – a soldados portugueses que defendiam esse território. […]

E já consta a alguém, que esteja feita oficialmente, de Portugal para a Alemanha ou vice-versa a respetiva declaração de guerra? […]

Ou nós nada percebemos de negócios diplomáticos, ou estamos vivendo, positivamente, de uma forma que nos amesquinha e nos avilta aos olhos de todo o mundo!

Vamos. Esta atmosfera não se pode respirar. Pela Inglaterra contra a Alemanha, mas já […]

Ou estamos em guerra ou somos neutrais.

Se estamos em guerra, caminhemos para ela altiva e resolutamente, pois que, se tivermos de morrer, vale bem mais a morte honrosa, do que uma confusa ou descarada vida!”.

 

E a 20 de fevereiro o Riomaiorense transcreve os pormenores do ataque a Naulila que chegaram “por intermédio de um nosso dileto amigo que se encontra na província de Angola e que nos parecem dignos de ficar registados, a fim de que, um dia, a história, se possa fazer com verdade, mas também com justiça:

As nossas tropas, quando foi do recontro com os alemães, estavam acampadas, desprevenidas, sem guarda avançada, sem vedetas, sem nada, como é costume dos portugueses. Os alemães, com todos os boers [sic] ao seu serviço (e a colónia bóer no sul tem milhares de pessoas, suponho) atacaram os nossos num ímpeto medonho sem terem sido pressentidos. […] “”

Também vão sendo dadas notícias sobre os contingentes que partem para África. A 23 de janeiro de 1915, com o título «África», sai uma pequena notícia sobre um contingente de tropas que marchou para Angola indo “dispostos a vingar com heroicidade, no campo de luta os seus valorosos irmãos mortos há pouco tempo numa cilada traiçoeira preparada pelos alemães.” E anteriormente, em 1914, nos inícios da guerra, “Partiram […] para as nossas colónias africanas, aproximadamente 4000 homens do nosso valoroso exército. […] Lisboa fez-lhes uma afetuosa despedida, e pode dizer-se que o país inteiro acompanhou a capital da República nas suas cativantes manifestações.” (12 setembro 1914). Ou a 24 de dezembro do mesmo ano onde se diz “Está a preparar-se nova expedição que dentro em pouco deve partir para a nossa província de Angola. Parece que se trata agora de um contingente de tropas mais elevado do que aqueles que têm seguido, o que quer dizer que tínhamos razão quando dissemos aqui que achávamos em demasia insignificante as forças que se mandavam para aquela vastíssima província”.

E reflexões sobre o estado de guerra aparecem frequentemente. Para terminar, trago um artigo de 5 de junho de 1915 que mostra bem o sentimento de afronta sentido pelos portugueses perante a atuação alemã:

 

Continuamos a não saber qual a situação em que nos encontramos perante a Alemanha, esse sinistro país que está sendo atualmente o flagelo da civilização e da própria humanidade. Como se não bastassem as afrontas com que nos tem mimoseado na nossa província de Angola, recentemente meteu no fundo, pela forma a mais bárbara e a mais desumana, um nosso navio mercante que pacificamente viaja no alto mar tratando do seu comércio […]

Porque nós somos pequenos havemos de suportar todos os vexames e todas as injúrias que nos dirijam? Não pode ser! Definam-se situações e acabemos de vez com este gachis [sic] que nos envergonha e que está desonrando para todo o sempre o nome de Portugal!

 

Mais uma vez nos é dado perceber a excelência do jornalismo praticado por O Riomaiorense, na atualidade da informação, na preocupação de identificar as suas fontes e na defesa dos valores republicanos. Por tudo isto, torna-se um documento essencial para o conhecimento da história de Rio Maior.

Maria Alzira Almeida

 

Figura 4 - Primeira página do n.o 177 do jornal O Riomaiorense, de 28 de Agosto de 1915.

"Mais uma vez nos é dado perceber a excelência do jornalismo praticado por O Riomaiorense, na actualidade da informação, na preocupação de identificar as suas fontes e na defesa dos valores republicanos"

 

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