Corrida às Minas. A intensificação da extracção nacional pela difícil importação (2)
No ano de 1923, a concessão de lavra passa para a Companhia das Minas de Carvão de São Pedro da Cova, com os mesmos sócios e administradores da anterior Empresa, de nacionalidade portuguesa, que continuam a investir no desenvolvimento da indústria mineira de São Pedro da Cova. Porém, os resultados obtidos na produção de carvão corresponderiam, não à melhoria, mas ao agravamento das condições de trabalho dos mineiros.
Com a entrada na década de 30, surge a necessidade de substituir o cavalete de madeira que equipava o Poço de São Vicente, de forma a “renovar as instalações de extracção e aumentar o coeficiente de segurança de marcha”; “aumentar a capacidade de extracção para poder fazer face a qualquer eventual aumento de produção”, “diminuir as despesas” e “concentrar a extracção". (3) A Companhia previa assim, ou pelo menos ansiava, o aumento da procura dos seus carvões pelo mercado nacional, originando assim o aumento da produção na Minas. O relatório do concelho de administração da Companhia das Minas, do ano de 1933, refere a necessidade de renovação das suas instalações de forma a criar “condições de poder fazer face a qualquer possível evolução do mercado de carvões o que nos permitirá fazer uma lavra mais metódica e mais económica das nossas Minas”. Contudo, não deixam de referir preocupação quanto à concorrência dos carvões estrangeiros que “continua a pesar desfavoravelmente sobre a nossa indústria”.
O elevado investimento feito nesta renovação é considerado pela Companhia “pesado sacrifício” esperando ser “compensado com a economia que daí deve resultar” (4). Nesta altura já a produção de carvão nas Minas de São Pedro da Cova rondava as 200 000 toneladas ano. Valores que quase duplicam com as dificuldades criadas pela 2ª Guerra Mundial. Este momento histórico dificultou o abastecimento de combustíveis importados, enfraquecendo a concorrência estrangeira e promovendo o consumo de carvões nacionais, originando aumento da procura, que por sua vez aumenta a produção. Para fazer face a esta situação, o próprio Estado Portugues pede às minas de carvão que “intensifiquem ao máximo as suas extracções para assim se atenuarem as dificuldades provocadas pela difícil importação de combustíveis” (5). Este pedido é aplicado em todas as Minas portuguesas, mas já em relatório do conselho de administração da Companhia das Minas do ano de 1939, primeiro ano da 2ª Guerra Mundial, referem a preocupação quanto à situação que os carvões nacionais podem enfrentam após o fim do grande conflito: “em virtude das resistências que sempre temos encontrado da parte de alguns possíveis consumidores, a quem só interessa a compra de carvões nacionais a preços excessivamente baixos e para nós proibitivos, julgamos que é indispensável a intervenção de Ex.mos Poderes Públicos a fim de assegurar, mesmo depois da terminação do conflito europeu, a colocação dos carvões nacionais, fomentando desta forma a sua produção na máxima intensidade”.
Os resultados apresentados pela Companhia das Minas durante os anos seguintes em que a guerra se desenvolveu apresentam-se de facto como anos de maior produção. Logo em 1940, as antracites de São Pedro da Cova adquirem mercado novo e aumentam as receitas da Companhia. O investimento nas novas instalações das Minas, nomeadamente a construção do novo cavalete em betão e da Lavaria, recolhem agora, em pelo conflito mundial, os seus benefícios. Contudo, os esforços feitos pelas minas de carvão portuguesas “por si só não poderão suprir toda a falta de carvão que resulta do actual estado de guerra” (6).
A falta de carvões em Portugal começa então a tornar-se preocupante, com as próprias administrações a reconhecer a incapacidade de resposta das suas minas à procura de carvão nacional e ao pedido do Estado Portugues: “tudo fizemos para vos apresentarmos uma situação sã, com base no aumento sistemático e racional da nossa produção, agindo sempre com a prudência e sob cuidados que as circunstâncias nos impunham”, “forçando-nos, até, a sacrifícios a que não nos podemos furtar” (7). A situação era alarmante, agravando o que se fazia sentir nas explorações mineiras, nomeadamente entre o pessoal operário que durante os 7 anos de guerra viram as suas condições de vida ficarem cada vez mais precárias e o seu trabalho ficar mais árduo e exaustivo – é de referir que durante este período de guerra trabalharam nas minas de São Pedro da Cova mais de 2 000 pessoas. Esta será também uma das justificações para a “crescente falta de pessoal, que, em busca do Eldorado, vem abandonado o trabalho das Minas” (8).
Perante esta situação, o Governo Português decreta estado de emergência, determinado a mobilização militar (1943-1946) das Minas da Bacia Carbonífera do Douro, por forma de resolver o problema da falta de mão–de-obra.
Figura 4 - Cavalete em madeira, 1920.
© Museu Mineiro de São Pedro da Cova.
(3)
FARINAS DE ALMEIDA, Augusto; As novas instalações do Poço de São Vicente da mina de carvão de São Pedro da Cova; Lisboa: Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos; 1940
(4)
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho deAdministração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1937; [S.l.: s.n.];
(5)
Estudos e Notas do Serviço de Fomento Mineiro. Vol XV fase 3.4 pág.298
Figura 5 - Cavalete do Poço de S. Vicente, 1965. © Museu Mineiro de São Pedro da Cova.
(6)
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho de Administração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1940; [S.l.: s.n.];
(7)
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho de Administração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1940; [S.l.: s.n.];
(8)
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho de Administração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1942; [S.l.: s.n.];