Corrida às Minas. A intensificação da extracção nacional pela difícil importação (3)
A satisfação sobre o lugar que os carvões nacionais ocupavam no panorama nacional e os resultados das contas apresentados durante este período é grande. Contudo, a névoa sobre o que poderia acontecer após findo o conflito não podia ser esquecida, premeditando-se mesmo o que se avizinhava. Com o fim da guerra, a administração da mina de São Pedro da Cova vangloria-se com “a contribuição valiosíssima que os carvões nacionais deram à Economia Nacional durante os anos de guerra”, mas lembra que não podem agora voltar a ser esquecidos: “e assim, não será pretensão descabida pretender e insistir no pedido duma eficaz intervenção do Estado, para que eles não sejam agora abandonados à natural tendência comodista do consumidor, que, dum modo geral, por pequena economia de trabalho, se inclina facilmente à queima dos carvões estrangeiros” (9).
Por muita insistência e pedidos de intervenção do Estado, a situação dos carvões nacionais começa a encaminhar-se para o estado em que se encontravam antes da guerra. As dificuldades sentidas em colocar as antracites da exploração de São Pedro da Cova no mercado surgem logo em 1949. Várias são as razões! Com o decreto do fim da mobilização militar, volta o problema da mão-de–obra, o cancelamento das expedições de carvão para as Centrais de Massarelos (S.T.C.P.) e de Caniços (Chenop) e os clientes perdidos pela concorrência do ”fuel-oil”.
Para contrariar esta situação, o governo de Salazar decide criar uma central térmica – Central Termoeléctrica da Tapada do Outeiro, Medas, Gondomar, destinada a queimar carvões nacionais, nomeadamente os oriundos das duas explorações mineiras da Bacia Carbonífera do Douro. Para a Companhia das Minas de Carvão de São Pedro da Cova esta central assumia-se como uma possível salvação para os carvões nacionais, portanto, também na salvação dos seus carvões.
Contudo, as minas de São Pedro da Cova não puderam resistir à revolução energética trazida pela electricidade, produzida a partir dos recursos hídricos e, posteriormente, pela utilização do fuelóleo. Repare-se que no início do ano de 1970 “já cerca de 85% das antracites de S. Pedro da Cova eram consumidas pela Central da Tapada do Outeiro, e a suspensão dos fornecimentos que nos foi imposta não permitia outra solução que não fosse a drástica e intensa redução da extracção” (10).
A notificação sobre a total conversão dos equipamentos da Central da Tapada do Outeiro para a utilização exclusiva de combustíveis líquidos até fim do ano de 1970 ditou o fim da extracção.
“E vai a morrer a Empresa, não sem que nas entranhas das suas minas fique carvão aproveitável e com interesse”, “mas que se saiba e não se esqueça – existem cálculos oficiais – que há, em S. Pedro da Cova e em Midões, 2.000.000 de toneladas de antracite e que nas nossas lignites de Rio Maior, são de ordem superior a 4.500.000 toneladas” (11).
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, João António de – “Exposição resumida das qualidades, e prestimo do carvão de pedra das Minas de S. Pedro da Cova e Buarcos e da maneira mais facil e economica de o empregar...”- Lisboa : Impr. Regia; 1826.
FARINAS DE ALMEIDA, Augusto – “As novas instalações do Poço de São Vicente da mina de carvão de São Pedro da Cova” - Lisboa: Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos; 1940.
GUEDES, Jaime Moreira – “Minas e mineiros em S. Pedro da Cova” -; Tese mestr. Antropologia, Univ. Nova de Lisboa; Lisboa: [s.n.]; 2000.
RIBEIRO, Carlos – “Memória sobre a Mina de Carvão de Pedra do Cabo Mondego” -; Boletim das Obras Públicas Comercio e Industria. Vol. I; 1857.
ROCHA, Idorindo Vasconcelos da - O carvão na industrialização portuguesa; trabalho realizado no Âmbito da investigação do projecto estruturas socio - económicas e industrialização no Norte de Portugal (séculos XIX e XX) - Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto; s/d.
ROCHA, Idorindo Vasconcelos da - O carvão numa economia nacional: o caso das Minas do Pejão -Dissertação de Mestrado em História Contemporânea apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto: [edição do autor]; 1997.
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho de Administração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1933 a 1972 .
Figura 7 - Mineiros no desmonte do carvão, década de 30. © Museu Mineiro de São Pedro da Cova.
(9)
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho de Administração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1945; [S.l.: s.n.];
(10)
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho de Administração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1970; [S.l.: s.n.];
(11)
COMPANHIA DAS MINAS DE CARVÄO DE S. PEDRO DA COVA; Relatório do Conselho de Administração e Parecer do Conselho Fiscal e Balanço referente ao exercício de 1972; [S.l.: s.n.];