Homenagem com Muita Saudade
Uma Vida, uma Terra, uma Gente
Rio Maior, 1942 - 2005 (1)
A Direção da ASSOCIAÇÃO PARA A DEFESA DO PATRIMÓNIO MINEIRO, INDUSTRIAL E ARQUITECTÓNICO “EICEL 1920”, através do seu Presidente, Senhor Arquiteto Nuno Alexandre Rocha, teve a amável iniciativa de nos dirigir um convite, como descendentes de Joaquim Faria Ribeiro, para colaborarmos na elaboração de um artigo para "O Riomaiorense", dedicado ao nosso Avô, antigo funcionário das Minas do Espadanal.
A Direção da “EICEL 1920”, tem vindo a manifestar-se na sequência do falecimento do nosso Pai, Luís Severino Lage Faria Ribeiro, de uma forma que nos comove, emociona e tranquiliza. Tranquiliza, por ser nossa convicção que a homenagem ao nosso Pai e Avós é justa e adequada.
A finalidade desta associação é a salvaguarda e valorização do património mineiro, industrial e arquitetónico do concelho de Rio Maior, através do desenvolvimento de estudos científicos, organização de ações de sensibilização da comunidade e publicações. A nossa contribuição, não se enquadra nesta tipologia de objetivos, contudo, com o apoio dos estudos da “EICEL 1920”, de forma modesta poderá constituir-se numa colaboração séria e sobretudo imbuída de “honestidade intelectual”. Honestidade, um dos valores transmitidos pelo nosso falecido Avô. Joaquim Faria Ribeiro, antigo Chefe dos Serviços Administrativos nas “Minas do Espadanal”, exploradas pela Empresa Industrial, Carbonífera e Eletrotécnica, Limitada (EICEL).
O nobre propósito da Associação que muito nos honra, com esta solicitação, conduz a um trabalho relevante, gerador de sinergias essenciais à compreensão do processo identitário Riomaiorense. Entre outras abordagens, este desígnio, segundo José Mattoso, constitui um fenómeno que resulta antes de mais da perceção que os próprios cidadãos têm de formarem uma coletividade humana. Ora, dado que essa coletividade tem uma existência histórica, será necessário, não esquecer que a identidade de um povo é revestida, de formas sucessivamente diferentes ao longo dos tempos. A identidade Riomaiorense, tal como existe hoje, resulta de forma inquestionável de um processo histórico que passou por diversas fases até atingir a expressão que atualmente conhecemos.
Com recurso aos estudos do Arquiteto Nuno Rocha, podemos cimentar a história transmitida pelos nossos Avós. O “Avô Quim” nasceu em Lisboa, a 28 de Abril de 1911. A ligação da sua família às Caldas da Rainha proporcionou o conhecimento da família da nossa Avó, Maria Natália Lage Faria Ribeiro.
Em 1942, o Engenheiro de Minas João Monteiro da Conceição, muito amigo do nosso Avô (Joaquim Faria Ribeiro) e do nosso Bisavô (Pai da Avó Natália) e que mais tarde assumiria por algum tempo a direção técnica do Couto Mineiro, convidou o “Avô Quim”, então residente em Porto de Mós (exercia a atividade de Chefe do Serviço de Conservação de Estradas no Concelho), para “Topógrafo dos trabalhos de fundo” nas Minas de Rio Maior. Posteriormente, por motivos de saúde, passaria a desempenhar funções de Chefia na Administração das Minas. A vida dos nossos Avós, entre 1942 e 2005, integra a alma Riomaiorense. Um período intenso e rico da nossa história, abarca o regime Salazarista, a II Guerra Mundial e a Revolução do 25 de Abril. Os traços de identidade da atual Cidade resultam de forma inevitável, também destes anos.
Monteiro da Conceição, futuro Diretor, fazia experiências de queima das “lenhites” em Porto de Mós e em simultâneo, promovia a realização de uma campanha de sondagens para avaliar o jazigo, de forma a poder planear-se um aumento da produção para corresponder melhor às emergências da época. Ainda, segundo o Arquiteto, na sequência dos estudos de J. M. Conceição (1941) e G. Zbyszewski (1943), a viabilidade industrial do jazigo e a possibilidade de adaptação a uma lavra mais intensa, levaram a que as minas de Rio Maior viessem a cumprir um papel efetivo, na produção energética nacional.
A fase dos anos 40 e 50 em Rio Maior foi marcante. A época histórica, fortemente identificada com a Segunda Republica Portuguesa, o “Estado Novo”, está associada ao período mineiro. Nesse contexto, o nosso Avô foi Protagonista.
Não vivemos esse tempo, mas imaginamos que terá sido intenso. O regime Salazarista, conturbado na vila por uma certa agitação social, com o êxodo dos mineiros vindos do Alentejo e doutras regiões pobres para o novo “El Dorado” que se lhes prometia, numa zona potencialmente rica e bem situada, exigia uma ação cuidada e muito empenhada por parte de quem exercia funções de liderança, com repercussões inevitáveis na vida das pessoas.
Figura 1 - Joaquim Faria Ribeiro, 1950.
© Colecção Joaquim Faria Ribeiro.
Por Luís Paulo de Almeida Faria Ribeiro
Pedro de Almeida Faria Ribeiro
Filipe de Almeida Faria Ribeiro
Figura 2 - Manuel Portugal de Andrade, encarregado geral da EICEL, e Joaquim Faria Ribeiro, nas imediações do cais da via-férrea Rio Maior - Vale de Santarém. Década de 50.
© Colecção Joaquim Faria Ribeiro.
A gestão da mina e de todos os assuntos relacionados com a motivação de todos que ali trabalhavam, não terá sido tarefa fácil. Recordamos relatos, que davam destaque ao papel da ação de apoio social, protagonizada por equipas orientadas, também pelas mulheres de alguns dos quadros superiores que ali cumpriam a sua atividade profissional. O nosso avô, entre muitas iniciativas, no domínio desportivo, tomou parte em 1945 na organização do Clube de Futebol “Os Mineiros” de Rio Maior. Foi Sócio Fundador (Sócio Nº1) sendo eleito, em sucessivos mandatos, Presidente dos três órgãos sociais do clube (Direção, Assembleia-Geral e Conselho Fiscal). A Honra de “Sócio Nº1”, após o seu falecimento, foi atribuída à nossa “Avó Natália”. Este Clube caracterizou em parte, toda a fase mineira da Vila. Segundo Fernando Duarte, o Clube “Os Mineiros” marcou presença de relevo em vários campeonatos e manteve-se desde então, em atividade e até há poucos anos. Foi o primeiro grupo português com esta designação, sendo constituído por funcionários das minas de “lenhite” do Espadanal. Foi de facto uma coletividade simpática e popular que a partir de 20 de Abril de 1947, dispôs de sede própria numa casa de Joaquim Varela, na antiga avenida Salazar. A génese desta coletividade, caracterizada pela constituição essencialmente mineira, parece-nos não só oportuno, como definidor de um período passado ainda relativamente recente e tão significativo na evolução social da terra. Pode não ser um facto histórico relevante, mas é um apontamento definidor de um período que se vivia na vila de Rio Maior, nos domínios desportivos. A sua preponderância social terá sido salutar na vida daquelas gentes e terá tido efeitos positivos na gestão e motivação dos grupos trabalhadores.