Homenagem com Muita Saudade
Uma Vida, uma Terra, uma Gente
Rio Maior, 1942 - 2005 (2)
A competência na ação de gestão do nosso Avô, não se terá limitado aos aspetos de índole administrativa na “EICEL” e posterior “EICE SARL”. A sua apetência, pelas obras públicas, sucede muito para lá da sua formação académica. Quando jovem, o convívio e trabalho intenso muito próximo, com o Engenheiro Severino da Conceição Lage, ativo democrata, sincero, um republicano de convicções e princípios e de inquestionável prestígio profissional e humano da região das Caldas da Rainha e Leiria, passou ao nosso Avô, conhecimento técnico e uma forma de estar na vida muito humanista. Referimo-nos ao Pai da “Avó Natália”. Na verdade, grande parte do conhecimento e da personalidade do nosso Avô terão sido enriquecidos, pelo convívio privilegiado que teve com o Pai da nossa Avó. Com o “Bisavô Severino”. A nossa honestidade intelectual, não deve ignorar a proximidade do “Avô Quim” com a autoridade do Estado do período a que nos referimos. Contudo a sua honradez, a seriedade, capacidade de trabalho, sentido da responsabilidade, a sua componente humana e o reconhecimento que gozava entre a população em geral, terá sido uma realidade incontornável. Foi um Homem de incontestável capacidade profissional, integro de caracter, rigoroso, exigente consigo próprio e com apurada sensibilidade para com os mais desfavorecidos. Salientamos a sua ação pedagógica, muito próxima dos mais carentes. O acompanhamento de situações familiares muito sensíveis, os conselhos, a procura de soluções, terão tido eco e concorrido para a forma como sempre foi acarinhado.
Após o período da II Guerra, e já nos anos 60, a dificuldade de colocação das “lenhites” nos mercados de combustíveis, fazem com que as Minas de Rio Maior cessem a sua atividade. O Avô, entre 1961 e 1963, foi um dos 19 funcionários da “EICE SARL” que ficam sujeitos a um atraso de 11 meses no pagamento de salários. Entre estes funcionários contava-se também o ex Diretor – técnico após Monteiro da Conceição, amigo dos nossos Avós, o Senhor Engenheiro Luís Falcão Mena. O drama vivido pelos funcionários e famílias acabaria por ser denunciado pelo Jornal “O Riomaiorense” e pela Revista “Seara Nova”. António de Oliveira Salazar, toma conhecimento através de Relatório da “PIDE” datado de 23 de Setembro de 1963. A ação do nosso Avô, juntamente com uma importante delegação de funcionários, vem a tomar contornos determinantes na resolução da situação. Assumem posição a 28 de outubro de 1963, apresentando uma exposição à Administração da Empresa, e definição de um prazo para pagamento dos salários em atraso. A situação em que se encontravam os funcionários foi exposta pelo Diário Popular, em reportagem publicada na edição de 14 de novembro de 1963, sob título “Também há dramas à superfície”. Os ordenados acabam por vir a ser pagos na véspera de Natal de 1963.
É o nosso Avô que acaba por vir a ser o ultimo funcionário ao serviço da Empresa, a pisar aquele espaço, e nessa qualidade, é quem fecha a porta.
Durante a década de 70, já em situação de reforma, fica com a responsabilidade do Posto Meteorológico do Espadanal. Recordamos as visitas missionárias ao Posto Meteorológico. A nossa infância, marcada por este grande Homem, faz com que hoje recordemos a realização perfecionista, das tarefas do Avô. O tratamento dos dados recolhidos no Posto, e o posterior envio para a Companhia Portuguesa de Eletricidade, eram executados com um cuidado que ainda hoje nos impressiona.
A nossa Avó Maria Natália, sua mulher, Senhora de apurada elegância de bom gosto e distinção, reconhecida por todos, ministrava aulas de piano em sua casa. A casa que marcou a infância do nosso Pai, e também a nossa. Durante o período da guerra do “ex Ultramar”, com os nossos Pais em Angola, dois de nós, vivemos durante algum tempo com os nossos Avós na Casa da Travessa do Espirito Santo nº 3, contígua com a casa histórica de D. Miguel, situada na antiquíssima Praça Velha. Uma casa que hoje foi adquirida pela Câmara Municipal, onde se desenvolvem atividades culturais a bem da identidade e progresso da Cidade.
Nós, os três filhos de Luís Severino Lage Faria Ribeiro e de Berta Andrade de Almeida Faria Ribeiro, tivemos o privilégio de conviver com o nosso Avô. Os valores que passou aos nossos Pais e a nós marcam-nos de forma indubitável. Alegra-nos que a sua memória não seja esquecida. A sua conduta irrepreensível constituiu certamente referência em Rio Maior, integrou o carácter de uma época e cremos que estará ligada ao processo identitário Riomaiorense. O “Avô Quim” faleceu com 69 anos em 1980. O sentimento de perda, ainda hoje nos acompanha. Descansa no Cemitério da Terra das Minas do Espadanal.
É nossa intenção, passar parte do espólio da Mina, ainda existente em casa dos nossos Pais, ao núcleo museológico da atual Sede da “EICEL 1920”, manifestando desta forma o nosso agradecimento à população Riomaiorense, pela forma como acolheu os nossos Avós e Pais. Tal intenção teria o nosso Pai – Luís Severino Lage Faria Ribeiro.
Um agradecimento especial ao Senhor Arquiteto Nuno Alexandre Rocha, bem como à iniciativa “EICEL 1920” a que preside, e ao Jornal Riomaiorense que publicará este simples, mas sentido texto.
Um Beijo especial à nossa Mãe e à “Xana”, mulher do nosso irmão mais novo, a quem o nosso Pai dedicou um carinho muito especial.
Pelo orgulho que temos nos nossos Pais e Avós, um dia, este pequeno texto será muito especial para os netos do Pai Luís Severino. Para os pequeninos, José Pedro e Guilherme Moutinho Faria Ribeiro.
A data deste artigo edifica uma homenagem ao “Bisavô Severino”.
Santarém, 5 de Outubro de 2015.
Luís Paulo, Pedro e Filipe.
Bem Hajam!