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[Arquivo do Riomaiorense) Vultos de Ontem (6)

 

 

 

XI - Manuel José Ferreira (1852-1913)

In O Riomaiorense (3.a Série), n.o  68. Rio Maior, 15 de Outubro de 1951.

Filho de João Ferreira e de Maria Braz, nasceu Manuel José Ferreira em Pousaflores, concelho de Ansião, a 16 de Julho de 1852.

Seus pais, se bem que com fracos recursos financeiros, ainda assim, mercê de alguns sacrifícios, conseguiram enveredá-lo pelos estudos, chegando a professor primário, aos 23 anos.

 

A 1 de Fevereiro de 1876, portanto com 24 anos, dá a sua primeira lição como professor, sendo a escola de Rio Maior testemunha desse acontecimento, para onde fora nomeado.

 

Casou com a Sr.a D. Maria Vicência da Silva Ferreira, ainda hoje felizmente viva, de quem teve onze filhos, sendo estes os seus nomes: Manuel, Augusto (o saudoso Dr. Ferreira, fundador da Escola Comercial de Rio Maior), Vitaliano, Ernestina, Ernesto, Carlos, Evangelino, Américo, Elvira, Teófilo e Epifânio. Destes, apenas são vivos hoje: Vitaliano, Ernesto e Elvira.

 

Com tamanha prole e auferindo baixos proventos do seu mister, fácil é de adivinhar as dificuldades com que lutava para a mantença de todos os seus. Fez prodígios Manuel José Ferreira!

 

Apesar de ser insuficiente a sua mensalidade como professor, nem por isso tal facto era motivo para se alhear do cargo que assumira. Ministrava o ensino a um número de crianças que, nos tempos de hoje, seria atribuído a dois ou três professores, e sempre com a maior dedicação, com o maior afã, sempre consagrando o mais puro amor aos discípulos e ao professorado. Manuel José Ferreira foi pois, de todos os tempos, um dos professores mais abnegados, fazendo autêntico sacerdócio da sua profissão.

 

Os seus discípulos, grande parte dos quais ainda vive e cruza connosco, sempre foram unânimes em tecer elogios ao seu carácter e às suas qualidades profissionais. E porque foi um professor exemplar, ainda hoje, volvidas algumas dezenas de anos, o recordam com saudade.

 

Manuel José Ferreira imprimia uma disciplina rígida na escola, autêntica disciplina militar, a que os discípulos, sem distinções, se tinham que sujeitar.

 

Esplêndida ideia: incutir disciplina à criançada, sempre propensa para a indisciplina!

 

Ainda foi autor de outras inovações a dentro da escola, entre elas, o de fazer usar bibes, uniformes na cor e no feitio, por parte de todos os discípulos, diferençando-se as classes por divisas.

 

Em 1894 (sic) (2) funda o primeiro jornal da nossa terra, que ele intitulou de “O Riomaiorense”, homónimo do nosso, e que era vendido, por sinal, nessa altura a 30 réis... Dirige-o e mantêm-no por alguns anos, revelando nele qualidades literárias e sempre a melhor atenção ao ensino primário.

 

Para melhor se ajustar aos assuntos nele versados, defesa da instrução primária, substitui mais tarde o título ao periódico, ficando “Educação Popular”, título aliás de pouca duração, pois não tardou que regressasse ao inicial (sic) (3).

 

Foi ainda autor de diversos livros adoptados nas escolas e do Almanaque do Professor Primário.

 

Contava 61 anos e foi em Julho, a um, quando Manuel José Ferreira deixou de pertencer ao número dos vivos.

XII - Emídio José de Oliveira (1846-1931)

In O Riomaiorense (3.a Série), n.o . Rio Maior, 26 de Janeiro de 1952.

 

 

Emídio José de Oliveira, de quem nos vamos ocupar, nasceu em Rio Maior, no dia 8 de Dezembro de 1846, sendo filho de José Maria de Oliveira, natural do Luso, e de Maria Rita, natural de Rio Maior.

Aqui seguiram e findaram os seus estudos, que foram limitados, menores do que a fama alardeou, e aqui se fez homem.

 

Pouco depois dos vinte anos, Emídio José de Oliveira distinguia-se pelo seu janotismo e era bastante considerado entre os seus conterrâneos, que o tinham por rapaz instruído.

 

Seu pai monta-lhe uma farmácia, no local onde hoje existe a loja de mercearias e fazendas do Sr. Aníbal da Silva, próximo da igreja.

 

Soube ser um proficiente farmacêutico, numa época em que os medicamentos eram quase todos manipulados na farmácia, e não especialidades vindas de laboratórios distantes, como hoje.

 

Os anos decorreram e Emídio Oliveira, ascendendo no conceito dos patrícios, pelas suas múltiplas qualidades, foi figura proeminente local, facto revelado nos cargos que assumiu: presidente da Câmara Municipal, provedor da Misericórdia, presidente de direcções de associações diversas, etc. Foi um dos mais esforçados fundadores do Teatro Riomaiorense, edifício, para a época e para a categoria da vila nesse tempo, muito bom mesmo, e dos Bombeiros Voluntários.

 

Excelente músico, tocava vários instrumentos, principalmente flauta. Conta-se que, muito embora fosse um bom executor de complicadas peças musicais, se tinha na conta de não haver quem tocasse melhor flauta do que ele. Mas um dia foi a Lisboa onde assistiu a um concerto de certo flautista de nome, estrangeiro. Pressupondo-se inferior, veio para Rio Maior e nunca mais tocou.

 

Praticou com muito entusiasmo os desportos da caça e da pesca. Pela época dos banhos passava temporadas na Nazaré, de onde partia com pescadores profissionais, mar afora. Demoravam essas incursões dias e noites, motivo por que conhecia distintamente o nome de todos os mares desde a Ericeira à Figueira da Foz.

 

Estes dois desportos favoritos, a caça e a pesca, praticou-os durante muitos anos, já ancião, com o seu inseparável amigo João Esperança, típico barbeiro que tocava rabeca, tinha uma burra malhada e a quem a rapaziada alcunhava de “Arage”.

Emídio José de Oliveira, também chamado Emídio Maria, poetou abundantemente. Deixou manuscritos dois livros de versos um dos quais se intitula “Flores e Ecos”. É deste livro a seguinte estrofe, que se refere ao acontecimento que todo o mundo cristão celebra no dia de Natal:

 

Caminhava José co’a Virgem Santa

P’ra uma povoação – era Beth’elem

E aí (mui perto de Jerusalém),

Numa choupana de pobreza tanta,

A Santíssima Virgem deu à luz

O Salvador do mundo, o bom Jesus.

 

Escreveu muitos versos para serem recitados por ocasiões de festas escolares e teatrais e colaborou em vários jornais, entre eles, o “Zoófilo”, não sabemos de que localidade, “Civilização Popular”, local, “Chama Popular”, de Castelo Branco.

 

Quanto à qualidade da sua poesia, que foca assuntos tétricos e donde sobressaem influências garrettianas, é muito fraca e imperfeita.

 

Foi pai de três filhos, Mariana, Alda e Emídio, este já falecido e quando muito novo, ainda em vida do autor dos seus dias. Com tal morte, inesperada, Emídio José de Oliveira sofreu imenso, abandonando a vida mundana e caprichosa. O entardecer e sol posto da sua existência, sempre roído pela dor da morte do seu ente querido, viveu-os como sombra do que fora, trajando quase andrajosamente, sem precisão. Faleceu em 10 de Setembro de 1931.

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Figura 11 - Manuel José Ferreira  (1852-1913). © Arquivo do jornal O Riomaiorense.

(2)

O jornal O Riomaiorense foi fundado a 2 de Julho de 1893, e não em 1894.

(3)

Manuel José Ferreira mudou o título do jornal para “Civilização Popular”, e não “Educação Popular”. O título Civilização Popular não teve uma curta duração, como erradamente se afirma, publicando-se durante dezassete anos, entre 1895 e 1912. Manuel José Ferreira não retomou o título de O Riomaiorense.

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Figura 12 - Emídio José de Oliveira (1846-1931). © Arquivo do jornal O Riomaiorense.

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