top of page

(Opinião) Imprensa Local: A força da cidadania e os limites do poder

                                                    

 

 

                                    

 

 

 

A terceira série, iniciada a 10 de Fevereiro de 1949 por Armando Pulquério e Feliciano Júnior, quebra com esta filiação afirmando os ideais veiculados pela ditadura do “Estado Novo”. “O Riomaiorense”, que se apresenta desta feita como “quinzenário regionalista e literário”, não se coíbe de tomar uma posição política em sentido diametralmente oposto ao velho republicanismo apresentado-o como “época de balbúrdia” e declarando pôr “de parte o tema predominante” da série anterior marcando a “diferença” na forma de erguer a voz “politicando (…) pelo engrandecimento de Rio Maior”.

 

Assim, na primeira página, ao lado do programa do jornal consta a declaração de apoio do candidato presidencial do regime: “se “o Riomaiorense” tivesse voto votaria sem pestanejar, cumprindo o seu dever cívico, num grande agradecimento a Salazar, no português ilustre, no homem almejado, e a todos os títulos digno que é o senhor MARECHAL ÓSCAR CARMONA”.

 

Para além disto e de várias notícias da campanha eleitoral do regime e de reuniões “nacionalistas” no corpo do jornal, a visita do governador civil de Santarém a Rio Maior , alvo de “apoteóticas manifestações”, é a notícia que tem mais destaque. Por outro lado, sem nenhuma surpresa, o candidato oposicionista Norton de Matos não tem direito à palavra. Acabará, aliás por desistir por falta de condições para divulgar as suas ideias. Recorde-se igualmente que nas eleições presidenciais de 1958, apesar da fraude massiva, o candidato oposicionista Humberto Delgado é declarado vencedor no círculo de Rio Maior o que nos mostra que algo da velha tradição republicana ainda sobrevive em Rio Maior na altura.

 

O programa desta terceira série é-nos introduzido pelo tópico retórico do rumor que se teria espalhado em Rio Maior de que o jornal não poderia sair devido a ser feito por uns “novos ignorados” sem “intelectualidade suficiente”. Este é o pretexto para se afirmar a maturidade dos autores e o seu papel enquanto “fiel mensageiro (…) de tudo quanto nela se passar de relevo, das suas necessidades, da exaltação das suas riquezas naturais, ainda dos reparos, benéficos, que lhe fizermos.” Gabando o “talento providencial do regime”, esclarece-se a relação com a política de duas formas. Em primeiro lugar, afirma-se que “política, nele também se faz menção. Temos o nosso ideal, sereno, filho das Obras – registemos a palavra com “Ó” maiúsculo – (...) que hão sido realizadas nesta última vintena de anos. Obras que vestiram Portugal com um trajo de “élite”, trajo que substituiu o de mendigo que envergava.” Em segundo lugar, porém diz-se que este ideal permanecerá calado na maior parte do tempo para só ser proclamado nos momentos necessários, evitando-se assim “bater na mesma tecla” o que poderia parecer “graxa”.

 

Recorde-se ainda a oitava série do jornal que escolhe o caminho inverso da independência política agora em democracia. Este “O Riomaiorense”, que se classifica como “quinzenário regionalista” e “sempre ao serviço de Rio Maior” é um jornal gratuito e sem qualquer publicidade, editado nas vésperas das eleições autárquicas de 1989, sendo o seu director Eduardo Casimiro então cabeça de lista do PSD à Assembleia Municipal de Rio Maior. É um jornal abertamente partidário pensado como uma arma de arremesso contra o executivo da Câmara.

 

O seu número zero, de apenas uma folha, publicado em Outubro de 1989 , é quase integralmente constituído pela notícia da apresentação da candidatura do PSD à Câmara e pelo anúncio de uma entrevista com a vereadora Hélia Santos que saiu do executivo do PS para as listas do PSD e que será repartida pelos números seguintes do jornal. Curiosa é a distância absoluta entre o carácter descaradamente partidário e o seu programa que se apresenta sob o lema “renascer”. Afirma-se que é um jornal que será nesta série “outro” mas cuja missão é “sempre a mesma: fazer circular a verdade, transmitir as ambições da comunidade, dar eco às arbitrariedades e às injustiças, criticar com senso mas frontalmente os erros, contribuir para o desenvolvimento da cidade e do concelho de Rio Maior, recordar as suas figuras de relevo.” O editorial do número 1 é a continuação desta linha afirmando a vitória que foi lançar um jornal “sem quaisquer apoios financeiros” e que se propõe “criar uma outra voz dentro da comunidade”.

 

Sem nunca assumir abertamente a mais que óbvia filiação partidária, o jornal faz de quase cada artigo (excepção feita aos poucos artigos culturais ou desportivos) um ataque duro ao presidente da Câmara de então, utilizando como armas a insinuação e o rumor como na rubrica intitulada “consta” cheia de alusões mais ou menos directas.

O Riomaiorense, que se apresenta desta feita como "quinzenário regionalista e literário", não se coíbe de tomar uma posição política em sentido diametralmete oposto ao velho republicanismo, apresentando-o como "época de balbúrdia" (...)

 

bottom of page