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O Centro Histórico de Rio Maior. Proposta de salvaguarda (2)

 

 

                         

 

 

 

 

 

Como exemplar excepcional da arquitectura residencial setecentista encontramos uma casa senhorial, localizada na Rua Direita, junto à Capela do Espírito Santo: hoje conhecida como a Casa Senhorial d’el Rei D. Miguel (figura 8). Casa rural, de dois pisos, reconstruída entre 1760 e 1770, com capela oratório privativa na extremidade da fachada principal, sobre a entrada, demarcada por pilastras decorativas e frontão curvo encimado por cruzeiro. Composta por dois pisos, um piso térreo destinado a arrumo de alfaias agrícolas e um piso nobre residencial, o interior apresentava um notável conjunto de tectos em masseira pintados com diversos motivos, um deles com as armas reais encimadas pela Cruz de Malta (12).

 

Entre as tipologias arquitectónicas predominantes na povoação identificamos alguns edifícios de dois pisos, com escadaria exterior de acesso a um piso superior residencial e um piso térreo destinado a actividades comerciais ou armazenamento de alfaias e produtos agrícolas, influenciadas pela arquitectura rural estremenha, nomeadamente a Casa na Travessa do Espírito Santo n.o 6 (figura 9) ou a casa na Rua D. Fernando I n.o 6 (figura 10).

Uma outra tipologia de habitação urbana mais simplificada mantinha ainda a demarcação entre o piso comercial e o piso nobre, mas com escadaria interior, como era visível na antiga casa de João Gomes Pulquério, na Rua Direita, já desaparecida.

São características comuns uma decoração arquitectónica muito simplificada, com a delimitação dos alçados por pilastras marcadas no reboco e remate da cobertura por beirados com cornija, vãos de pequena dimensão com cantarias rectas de grande espessura e fenestração de guilhotina, com pequenos vidros, surgindo, nos exemplos mais elaborados, janelas de sacada com gradeamentos de ferro forjado.

 

A implantação das ruas a diferentes altimetrias na encosta gerou um dos motivos arquitectónicos característicos do núcleo urbano antigo: os longos e altos muros de suporte de terras, rebocados e caiados a branco, com capeamento de pedra calcária, e as escadarias que lhes estão associadas, repetindo-se sempre que a diferença de cotas a isso obrigava. O muro mais antigo, construído na delimitação do adro da Capela da Irmandade das Almas, surge representado na referida cartografia datada de 1789 (figura 1). Estão ainda hoje preservados alguns troços destes muros na Rua João de Deus/ Escadinhas do Encontro (figura 11) no Largo D. Maria II/ Rua Mouzinho de Albuquerque (figura 12) e na Rua David Manuel da Fonseca/ Praça do Comércio (figura 51).

 

Através da mesma cartografia verificamos que a Praça do Comércio não existia ainda no final do século XVIII. Até então, os principais espaços públicos do burgo localizavam-se no largo formado pelo encontro da Rua Direita (actual Rua Serpa Pinto), com a actual Rua David Manuel da Fonseca, frente à Casa Senhorial e próximo da antiga capela da Santa Casa da Misericórdia, e no Largo do Rossio (actual Largo D. Maria II), possivelmente o Rossio do Concelho, documentado desde 1435 (13).

 

Os limites da povoação estendiam-se até ao sítio do mal cozinhado, Rua de S. Sebastião (actual Rua 5 de Outubro) onde se localizava a Capela de S. Sebastião, construída em 1569 e com alpendre datado de 1688 (14), em cujo terreiro era realizada a feira anual de Setembro, instituída pelo Rei D. José I em 1761.

 

Rio Maior ocupava, desde tempos antigos, uma posição relevante na rede de caminhos que fazia a ligação entre as cidades de Lisboa e Leiria, como atesta a existência de uma albergaria régia no século XIII. Esta posição será reforçada em 1791, com a construção da Estrada Real, no reinado de D. Maria I (15). A passagem da nova via pela povoação fazia-se a Norte pela actual Rua Marquês de Rio Maior, atravessando o rio no actual Largo Adelino Amaro da Costa em direcção a Sul, pela Asseiceira.

(12)

MENDONÇA, Isabel - “Casa Senhorial d’el Rei D. Miguel. Ficha IPA00006523”, disponível na página de internet do SIPA, Direcção Geral do Património Cultural, a 1 de Outubro de 2018.

(13)

OLIVEIRA, Luís Filipe - "Entre a Vila e e a Aldeia. A Comunidade de Rio Maior na Idade Média." In Arquipélago. História, 2.a Série, n.o 8, 2004, pág. 229.

(14)

LEAL, Augusto de Pinho – Portugal Antigo e Moderno. Vol.8. Lisboa: Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 1878, pág. 199.

(15)

AZEVEDO, Ricardo Charters de – A Estrada de Rio Maior a Leiria em 1791. Leiria: Textiverso, 2011.

(continua na página seguinte)

Muro de suporte de terras do adro da Capela de N.a S.a da Vitória. © Nuno Rocha, 2018. Arquivo O Riomaiorense.

Figura 11 - Muro de suporte de terras do adro da Capela de N.a S.a da Vitória. © Nuno Rocha, 2018. Arquivo O Riomaiorense.

Casa Senhorial d’el Rei D. Miguel. © Nuno Rocha, 2008. Arquivo O Riomaiorense.

Figura 8 - Casa Senhorial d’el Rei D. Miguel. © Nuno Rocha, 2008. Arquivo O Riomaiorense.

Casa na Travessa do Espírito Santo n.o 6. © Nuno Rocha, 2006. Arquivo O Riomaiorense.

Figura 9 - Casa na Travessa do Espírito Santo n.o 6. © Nuno Rocha, 2006. Arquivo O Riomaiorense.

Casa na Rua de D. Fernando I, n.o 6. © Nuno Rocha, 2005. Arquivo O Riomaiorense.

Figura 10 - Casa na Rua de D. Fernando I, n.o 6. © Nuno Rocha, 2005. Arquivo O Riomaiorense.

Muro de suporte de terras do Largo D.a Maria II. © Nuno Rocha, 2017. Arquivo O Riomaiorense.

Figura 12 - Muro de suporte de terras do Largo D.a Maria II. © Nuno Rocha, 2017. Arquivo O Riomaiorense.

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