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(Arquivo) Como nasceu a 2.a Série de O Riomaiorense (5)

Por António Custódio dos Santos

In O Riomaiorense (3.a Série) no. 271, de 1 de Dezembro de 1963

 

 

 

 

Na quinta-feira, 4 de Abril, a chegada do primeiro número a Rio Maior foi um verdadeiro acontecimento. Que entusiasmo! Que louca alegria! Todos esperavam com incontida emoção, o carro do correio, em frente à redacção, e logo que este chegou e viram saír do seu bojo o volume contendo o almejado jornal, a satisfação que irradiava de todos aqueles rostos sonhadores, tocou os raios do delírio! Correram para a Redacção onde havia sido colocada uma mesa, cadeiras, tinta, penas, lápis e papel, e abrindo sofregamente o volume, cada um tirou o seu jornal, que devorou do principio ao fim com verdadeira avidez! Chegados ao término da leitura todos exclamaram: Está bom. Está óptimo!

 

Agora precisamos preparar-nos para o segundo número, mas antes, vamos proceder à expedição do que temos na nossa frente.

 

E como já se achavam as listas organizadas, efectuou-se o dobramento do Jornal e em seguida fez-se a expedição. Concluída esta, cada um saíu com um certo número de exemplares para a estação do correio, de modo que logo no dia seguinte, na primeira expedição, pudesse ser feita a competente entrega. Foi um sucesso! No dia seguinte choviam de todos os lados as felicitações pelo aparecimento – diziam – de tão indispensável órgão dos interesses riomaiorenses, e quem o não tinha recebido, exigia a sua inscrição como assinante!

 

Das freguesias chegavam, igualmente, poucos dias depois, manifestações de entusiasmo, de apoio e de incitamento, para que não desanimássemos no caminho traçado, e isto representava uma grande consolação para as almas de todos aqueles inveterados idealistas!

Colaboradores do Jornal

 

Começaram então a surgir, espontaneamente, colaboradores de incontestável valor como o doutor Francisco Henriques de Carvalho Jr., ilustre filho da nossa terra, abalisado médico-cirurgião do partido municipal, amigo íntimo de António Custódio e seu padrinho de casamento.

 

Sempre que passava em frente da Redacção na sua bonita charrete puxada por um vigoroso alazão, e sabia que ali se encontrava o seu velho e indefectível amigo, deixava o veículo entregue a um dedicadíssimo criado que sempre o acompanhava, e entrava, para bater com ele um papo agradável de alguns minutos, como se diz no Brasil.

 

É de uma dessas visitas a fotografia histórica, que brevemente publicaremos, cuja chapa foi batida quando o afamado clínico, já no boleia da sua charrete, ía a retirar-se, pelo colega de redacção, Francisco Santos, também seu amigo e grande admirador, que nas horas vagas exercia a profissão de fotógrafo amador.

 

Guardado carinhosamente o original por António Custódio, este mais de cinquenta anos depois, manda fazer em Niterói, onde tem o seu domicílio, uma reprodução, expressamente para ser publicada neste número no nosso sempre querido “O Riomaiorense”.

 

Outro distinto colaborador que voluntária e prazenteirosamente veio ao nosso encontro, deleitando-nos com a sua prosa sempre agradável, foi Francisco Augusto Ferreira Campos, da Quinta do Carvalhal, freguesia de Azambujeira. Era um verdadeiro estilista, de apreciáveis recursos literários, tão bem manejando a prosa como a poesia.

 

Excessivamente modesto, duma afabilidade contagiante, considerávamo-lo uma pérola escondida nos agrestes pedregulhos da aliás simpática freguesia de Azambujeira.

 

João Fernandes Pratas, de Samora Correia, amigo de Francisco Santos, que o trouxe para O Riomaiorense, afim de o auxiliar na Secção Pedagógica, afastado Francisco Santos, continuou a honrar-nos com a sua colaboração, tanto pedagógica como de natureza geral, demonstrando profundos conhecimentos de qualquer matéria que abordasse.

 

Emídio José de Oliveira, antigo farmacêutico em Rio Maior, de onde era natural, criatura muito simpática, modesta e bastante inteligente, frequentemente nos distinguia com umas quadrasinhas bem urdidas, e por vezes com bocados de prosa sempre interessantes e de real oportunidade.

 

Mas muitos outros colaboradores, e bem distintos, foram surgindo espontâneamente, facilitando-nos assim imenso a feitura do Jornal, que cada vez aparecia mais agradável e mais digno da simpatia de todos aqueles, assinantes e não assinantes, a quem era enviado.

 

Entre esses obsequiosos colaboradores, citaremos Luís Leitão, Nuno Beja, Ernesto Branco, Ildefonso Leitão, Eduardo Moreira, Francisco Garção, estes os mais assíduos, porque outros havia ainda que de quando em vez nos mandavam óptimas produções, cujos nomes, contudo, não nos ocorrem no momento.

 

A chegada dos números subsequentes era sempre recebida com a maior e mais justificada alegria. A Redacção enchia-se de bons amigos que partilhavam do contentamento que nos dominava.

Campanhas em que nos empenhámos

Logo nos primeiros números começámos a debater a decantada instalação da linha telegráfica Santarém – Rio Maior. Simultâneamente tratávamos, igualmente, da almejada construção da linha-férrea Setil – Peniche.

 

Esta linha havia sido considerada muitos anos antes, pelas autoridades competentes, de natureza estratégica, portanto de defesa militar, tendo sido efectuado o estudo e o respectivo traçado, a partir de Vendas Novas, passando por Setil, Cartaxo, Rio Maior, Caldas da Rainha e a terminar em Peniche, pleno Oceano Atlântico. Pois bem. Iniciada a construção, veio muito bem até ao Setil, onde emperrou!! Dizia-se que altos trunfos, ainda na vigência da monarquia, se empenharam para que ela parasse no Setil, e de facto, semelhante suspeita se confirmou, pois não houve forças que demovessem os governos de então a cortarem aquele nó górdio!...

 

Vem a República e a situação subsiste. Os altos trunfos continuam as suas manobras ocultas e ninguém consegue derrotá-los!!

 

O Riomaiorense, entretanto, continua a sua campanha e obtém que uma grande comissão representando as camadas do Cartaxo, Rio Maior, Caldas da Rainha e Peniche, seja organizada. Em dia e hora previamente estabelecidos, reúne-se no Ministério do Fomento e com o ilustre deputado por este círculo, Francisco José Pereira, entrevista-se com o titular da pasta, doutor Aurélio da Costa Ferreira. Como sempre, muita gentileza, generosas palavras, encantadoras promessas! Francisco José Pereira, um democrata com D. maiúsculo e um carácter do mais fino quilate, prometeu que continuaria acompanhando o assunto com o maior interesse, e que se tanto fosse preciso, levantaria a questão no Parlamento.

Figura 8 - O Riomaiorense (2a. Série) no. 1, de 4 de Abril de 1912.  © Arquivo O Riomaiorense
 

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