top of page

O Caminho-de-Ferro Mineiro de Rio Maior ao Vale de Santarém (16)

 

 

 

 

 

Em Março de 1969, a meses da suspensão da lavra no Couto Mineiro do Espadanal, as palavras do director do Jornal do Oeste soam já a dobre de finados. Recorda-se “o nosso comboio, que Deus haja…!” (119), registando-se que há mais de um ano não circula qualquer composição no ramal mineiro. Insiste-se, em nova interpelação ao Ministro da Economia, na importância económica da ligação do concelho a rede ferroviária nacional sublinhando-se, com toda a actualidade, que o comboio “não é um meio de transporte ultrapassado, é antes importante, utilíssimo nos nossos dias, em Portugal como em qualquer país, por mais evoluído que seja” (120).

Independentemente dos argumentos apresentados pela comunidade, no final do ano de 1968 começara efectivamente a ser ponderada pelos organismos do Estado a desmontagem do ramal ferroviário de Rio Maior ao Vale de Santarém, alegando-se a sua inutilidade. No seguimento de elaboração pela Direcção Geral dos Combustíveis, de “uma relação dos materiais, utensílios e ferramentas existentes naquele caminho de ferro” (121), enviada à Repartição do Património da Direcção Geral da Fazenda Pública (DGFP), e antes de se propor a venda dos mesmos em hasta pública, é solicitada, em 17 de Dezembro, informação à DGTT sobre a forma mais adequada de lhes “dar destino” (122), tendo em conta o possível interesse dos serviços dependentes desta Direcção Geral.

A DGTT remete, a 28 de Dezembro, a relação de materiais, utensílios e ferramentas do caminho-de-ferro de Rio Maior à CP, solicitando informação sobre o possível interesse daquela companhia na sua aquisição (123). Seguir-se-á uma demora de cerca de oito meses na resposta.

No decurso das chuvas de Inverno registam-se desabamentos de terras junto ao caminho-de-ferro, com particular incidência ao quilómetro 12.800, onde se verifica uma obstrução da via. A Direcção Geral dos Combustíveis, tendo em conta a iminente decisão pela desmontagem do ramal, solicita à Repartição do Património da DGFP, em Maio de 1969, esclarecimentos sobre “a atitude a tomar em relação aos trabalhos de limpeza” (124). Retomam-se contactos entre a Direcção Geral dos Combustíveis, a DGFP e a DGTT, bem como desta Direcção Geral com a CP, procurando-se uma decisão final sobre o destino a dar aos materiais instalados na via e em depósito.

A resposta da CP será conhecida a 9 de Agosto. Após examinação dos elementos inventariados, esta companhia descreve assim o material assente na linha:

"a) Os carris só servem para linhas secundárias de estações e ramais.

b) Os tirefonds somente 10 % poderão ser aproveitados. 

c) As barretas aproveitar-se-ão cerca de 50 %.

d) As travessas só servem para queimar”  (125).

Considera-se a aquisição deste material “antieconómica, devido não só ao seu mau estado mas também à dificuldade do seu levantamento e respectivo transporte” revelando-se, no entanto, um eventual interesse na aquisição de materiais armazenados em depósito, dependendo do preço que lhes for atribuído, a saber:

"1) As cróximas, agulhas rígidas e flexíveis tipo CP material 30 kg.

2) Barretas, cunhas barberot e tirefonds novos existentes nos barracões. 

3) 50 % da ferramenta, especialmente bitas” (126).

Passar-se-ão dois anos sem decisão. Apenas a 17 de Setembro de 1971, a Repartição do Património da DGFP envia à DGTT “nota dos materiais pertencentes à linha de Rio Maior e que têm aplicação na CP”, com valores de aquisição propostos por esta companhia, num total de 50.000$00, solicitando que, pelos serviços daquela Direcção Geral, “seja dado parecer sobre os preços oferecidos” (127). Em Dezembro do mesmo ano, e ainda sem resposta, a Repartição do Património da DGTT insiste na urgência do parecer por razões financeiras, registando que “a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses está a apresentar mensalmente facturas respeitantes á despesa feita com a vigilância daqueles bens” (128).

A 23 de Dezembro de 1971, a DGTT informa a Repartição do Património da DGFP de que os valores propostos para aquisição dos materiais da via-férrea de Rio Maior ao Vale de Santarém pela CP “são considerados aceitáveis” (129), dando a sua anuência à respectiva venda. Segue-se desta forma a alienação do material em depósito, e o abandono, por inutilidade, do material assente na via.

(119)

“O nosso comboio, que Deus haja!... ”. In Jornal do Oeste (4ª série) nº465. Rio Maior, 3 de Março de 1969.

(120)

Idem, ibidem.

(121)

[Ofício enviado pela Repartição do Património da Direcção Geral da Fazenda Pública à DGTT remetendo relação dos materiais, utensílios e ferramentas existentes no caminho de ferro de Rio Maior e solicitando informação sobre a melhor forma de lhes dar destino]. Lisboa, 17 de Dezembro de 1968. 1p. ARQTT.

(122)

Idem, ibidem.

(123)

[Ofício enviado pela DGTT à CP remetendo relação dos materiais, utensílios e ferramentas existentes no caminho de ferro de Rio Maior e solicitando informação sobre o interesse desta Companhia na aquisição de alguns dos materiais]. Lisboa, 28 de Dezembro de 1968. 1p. ARQTT.

(124)

[Ofício enviado pela Repartição do Património da Direcção Geral da Fazenda Pública à DGTT informando sobre comunicação da Direcção Geral dos Combustíveis acerca de desabamentos junto à via-férrea de Rio Maior e solicitando novamente informação sobre o destino a dar aos materiais instalados naquela via]. Lisboa, 26 de Maio de 1969. 1p. ARQTT.

(125)

[Ofício enviado pela CP à DGTT apresentando análise do material inventariado na via-férrea de Rio Maior e demonstrando eventual interesse na aquisição de material armazenado em depósito]. Lisboa, 9 de Agosto de 1969. 2p. ARQTT.

(126)

Idem, ibidem.

(127)

[Ofício enviado pela Repartição do Património da DGFP à DGTT solicitando emissão de parecer sobre os valores propostos para aquisição de material da via-férrea de Rio Maior pela CP e remetendo relação de materiais orçamentada]. Lisboa, 17 de Setembro de 1971. 4p. ARQTT.

(128)

[Ofício enviado pela Repartição do Património da DGFP à DGTT relembrando solicitação de emissão de parecer sobre os valores propostos para aquisição de material da via-férrea de Rio Maior pela CP]. Lisboa, 6 de Dezembro de 1971. 1p. ARQTT.

(129)

[Ofício enviado pela DGTT à Repartição do Património da DGFP informando que os valores propostos para aquisição de material da via-férrea de Rio Maior pela CP são considerados aceitáveis e dando anuência à venda]. Lisboa, 23 de Dezembro de 1971. 1p. ARQTT.

bottom of page