O Caminho-de-Ferro Mineiro de Rio Maior ao Vale de Santarém (8)
Um segundo factor, de ordem económica, agudizará a dúvida sobre os benefícios da via-férrea: num contexto de dificuldades gerais nos transportes gerado pela situação de guerra internacional, o início da circulação dos comboios mineiros vem reduzir significativamente o tráfego de camionetas de mercadorias entre Rio Maior e a estação ferroviária de Santarém, que anteriormente assegurava o transporte das lignites, e que atingiria, segundo o jornal Concelho de Rio Maior, um número de viagens diárias na ordem das dezenas (46).
A supressão destas camionetas, que nas viagens de retorno permitiam o transporte de mercadorias para a vila e algumas boleias de passageiros, vem agravar as dificuldades já sentidas. Afirma-se mesmo, dramatizando: “aquilo que, no que respeita a transportes, foi durante tanto tempo a aspiração máxima de toda esta região é hoje uma realidade. Não obstante, nunca Rio Maior esteve tão mal servida de transportes como nos dias que correm! O caso atinge mesmo foros de grave problema que urge resolver, sob pena de o comércio e a indústria acabarem por estagnar no mínimo possível e de os particulares se não arriscarem a sair da vila conduzidos em transportes colectivos.” (47)
O transporte de mercadorias no ramal mineiro será sucessivamente dificultado pela indisponibilidade da CP para assumir a concessão e pela inexistência de autorização ministerial que permita à Comissão Reguladora do Comércio de Carvões (CRCC) a abertura do ramal a transportes de outros produtos além do carvão e das madeiras.
Entre o final do mês de Julho e a segunda quinzena de Agosto temos registo de um pedido de autorização da CRCC ao Ministério da Economia para circulação de mercadorias diversas no ramal mineiro (48) – pedido acompanhado de perto pelos Grémios locais do Comércio e da Lavoura – e do início do transporte a título precário de vagões de mercadorias para particulares (49).
A precariedade da solução será motivo para Carta Aberta do jornal Concelho de Rio Maior ao Governador Civil do Distrito de Santarém, a 1 de Novembro, expondo “a paradoxal situação de uma localidade que, sempre mal servida de transportes, chegou ao extremo de quase não poder receber nem despachar mercadorias depois que começou a funcionar um caminho de ferro que a ligava com a restante rede ferroviária do País!” (50)
Em poucos meses de funcionamento, o ramal ferroviário de Rio Maior ao Vale de Santarém passa, aos olhos da população – e em face de expectativas goradas de impacto na economia regional – de aspiração concretizada a perigosa inutilidade. Caricatura-se um comboio que “serve para levar mas não serve para trazer” (51). Em Dezembro, o mesmo jornal Concelho de Rio Maior apresenta o vislumbre de uma solução, referindo contactos entre o Governador Civil e o Ministro da Economia (52), bem como uma exposição enviada àquele ministério pelo Grémio do Comércio (53).
Nos últimos dias de 1945 acrescenta-se à dificuldade de transporte de mercadorias a total impossibilidade de circulação das composições devido ao deslizamento de terras provocado pelas águas das chuvas nas barreiras deficientemente consolidadas da via (54).