O Caminho-de-Ferro Mineiro de Rio Maior ao Vale de Santarém (6)
Num quadro de indefinição quanto à solução a adoptar prosseguem os trabalhos de terraplanagem ocupando terrenos da linha do Leste e iniciando a demolição de uma casa de habitação de agente de via sem conhecimento da DGCF, que a 9 de Junho solicita esclarecimentos e lembra que apenas devido à natureza excepcional dos trabalhos não procede ao seu embargo.
A 6 de Julho, obtido finalmente o acordo da CP, a DGCF autoriza a execução provisória da ligação do ramal mineiro de Rio Maior à Linha do Leste segundo projecto da CRCC, sob compromisso de alteração do traçado após execução pela JAE da variante à Estrada Nacional n.º 3.
Ainda no mês de Julho a Comissão Reguladora do Comércio de Carvões (CRCC) aborda pela primeira vez a Direcção Geral dos Caminhos-de-Ferro (DGCF) sobre a possibilidade de transporte de outros minérios além da lignite na via-férrea Rio Maior – Vale de Santarém, nomeadamente sal-gema e tripoli, e ainda outras mercadorias (35). A DGCF levantará, no entanto, uma sucessão de dúvidas legais que arrastarão durante dois anos a autorização dos transportes pretendidos pela CRCC e, como veremos, reivindicados também pela população local.
Os trabalhos de assentamento da linha, que no início do mês de Outubro se aproximam da aldeia de Ribeira de S. João, a 10 quilómetros de Rio Maior, prosseguem a um ritmo lento, paralisando em Novembro. A continuidade da obra encontra, neste mês, novos obstáculos devido ao esgotamento do empréstimo contraído junto da Caixa Geral de Depósitos e a dificuldades na manutenção da lavra mineira por recusa das indústrias nacionais ao cumprimento da obrigação legal de consumo das lignites de Rio Maior.
Decorrem três meses de paralisação dos trabalhos que apenas na sequência de visita do Sub-Secretário de Estado das Obras Públicas, a 10 de Março de 1945, serão retomados, adiantando-se um prazo de 30 dias para a conclusão (36). A 17 de Março, a CRCC é autorizada por decreto dos Ministérios das Finanças e da Economia (37), a contrair novo empréstimo no valor de 18.000 contos para saldar a primeira obrigação contraída, repor verbas da taxa de importação de carvões utilizadas na obra, e para com a quantia restante concluir a construção do caminho-de-ferro.
Na primeira quinzena de Abril, “os silvos das máquinas já despertam, noite e dia, os ecos da região” (38) em circulação experimental (figura 3). A comunidade local olha com expectativa a conclusão da obra e as perspectivas do seu impacto na economia regional, não escondendo, no entanto, algumas reticências pela indefinição quanto à possibilidade de transporte de passageiros e mercadorias no ramal – facto que adquire redobrada importância com a interrupção da circulação de camionetas entre as minas de lignite e a estação ferroviária de Santarém que até então assegurava, no retorno, o transporte de mercadorias para Rio Maior.
No dia 24 de Abril de 1945 tem início a circulação no ramal ferroviário Rio Maior – Vale de Santarém (39). O primeiro comboio a partir, de um cais ainda sem estruturas de apoio edificadas (figura 4), é uma composição de 13 vagões transportando 250 toneladas de lenha requisitada pela CP para o Entroncamento. Sem um acto inaugural oficial terá lugar pela noite, às 22h30, a saída do primeiro comboio carregado de lignite, marcada com o lançamento simbólico de uma salva de foguetes pela EICEL.